Rotary foi criado a 23 de fevereiro de 1905, naquela que foi a primeira reunião entre Paul P. Harris (advogado), Gustavus Loehr (engenheiro de minas), Silvester Schiele (empresário do sector do carvão) e Hiram E. Shorey (alfaiate). O desejo de Paul Harris de promover o companheirismo entre profissionais perdurou. Rotary destaca-se pela valia dos seus profissionais e o que eles contribuem para a comunidade. Neste janeiro de 2021, queremos mostrar a valia de companheiros que se destacaram, na sua atividade profissional, durante um ano de 2020 que nos pôs, a todos, à prova.
“Sinto em todos [os profissionais de saúde], apesar do cansaço, o sentido do dever cumprido, do esforço em equipa”
Sou médica, internista. Trabalho há mais de 30 anos num hospital de pequenas dimensões, outrora considerado distrital, incluindo, desde sempre, serviço de urgência…
Assisti à emergência do VIH, passei pelo temor da gripe A. Todos os invernos me deparo com serviços sobrelotados pela epidemia da gripe, com o habitual caos nas urgências. E digo-vos, o mundo, mas sobretudo os serviços de saúde não estavam preparados para uma pandemia…
Urgiu reorganizar serviços, duplicar urgências, estabelecer circuitos, realocar profissionais.
Ao acréscimo do volume de trabalho associou-se o receio do desconhecido. Uma patologia nova acerca da qual o conhecimento era escasso. Como diagnosticar, como tratar? Como proteger os outros utentes e os profissionais? A escassez inicial de equipamentos de proteção, a falta de testes, de quartos de isolamento. A dificuldade de articulação de vagas de cuidados intensivos. Colegas infetados, internados… Testes sucessivos por contactos inesperados, porque por muito que se tente estabelecer circuitos isolados (pré-triagem e encaminhamento para áreas dedicadas), quando menos esperamos lá aparece mais um “positivo” numa zona supostamente “limpa”. O treino para o cumprimento minucioso dos cuidados de proteção… Os surtos nos serviços… O receio de nos infetarmos, de “levar para casa” o vírus e contaminar os “nossos”, sobretudo os mais idosos ou com doenças crónicas.
Embora “protegida” do Covidário, bem como da zona de internamento que foi necessário criar para esta patologia, tenho lidado de perto com as preocupações e angústias dos profissionais de saúde nesta árdua luta. E considero que cada um, na sua especificidade, tem sido um verdadeiro herói: os que trabalham na linha da frente, os que asseguram os restantes serviços para que seja possível deslocar pessoal para as áreas dedicadas, os que tentam organizar e inventar novos espaços e adquirir equipamentos com stocks em rutura… Horas extra, turnos demasiado sobrecarregados, férias canceladas, feriados não gozados… Mas sinto em todos, apesar do cansaço, o sentido do dever cumprido, do esforço em equipa.
E por tudo isto, os meus sinceros parabéns a todos os profissionais de saúde, que mais uma vez mostram a sua verdadeira essência e o seu brio profissional!
Cristina Teotónio
Rotary Club Bombarral
Médica
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“A possibilidade de ser um veículo de transmissão torna a minha rotina mais solitária”
Rui Gonçalves, tenho 37 anos, sou enfermeiro dos Serviços Clínicos do Estabelecimento Prisional do Porto. Pertenço ao grupo de Emergência desta entidade há quase 4 anos. Passei anteriormente pela entidade INEM, onde já me deparei com várias realidades e medos, mas não há livro, faculdade ou experiência anterior que prepare alguém para uma pandemia. Adoro o que faço, mas nunca fomos preparados para tal.
Faço turnos de 14 horas e ou 17 horas que só deixam espaço para uma coisa: alguns receios. O receio que abraça os meus dias, e afirmo: tenho pessoas que me fazem muita falta e com as quais não posso estar. A possibilidade de ser um veículo de transmissão para aqueles que me rodeiam torna a minha rotina mais solitária.
Aquilo que me ajuda é focar-me no que posso fazer para ajudar o próximo. Aquilo que me fez escolher enfermagem é também aquilo que até hoje alicerça os meus princípios: estive sempre em contacto com o ato de cuidar o próximo em momentos vulneráveis, e foi também isso que me fez escolher esta profissão.
Rui Gonçalves
Rotary Club de Castelo de Paiva
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