Em 2014, Diana Vasconcelos decidiu deixar Portugal para dedicar-se, voluntariamente, a ajudar crianças desfavorecidas e a construir escolas em favelas Quenianas.
Com apenas 29 anos, Diana já havia mudado de país quatro vezes. Foi aos 26 que tomou uma das decisões mais importantes da sua vida: ir viver para o Quénia e construir escolas para crianças desfavorecidas.
Após a licenciatura em Ciências da Comunicação e uma especialização em Assessoria de imprensa, Diana passou por várias empresas ligadas à sua área de formação, até sair, pela primeira vez, do país: “recebi uma chamada que me levou para o lado de lá do Atlântico. Era uma prima minha a perguntar se eu gostava de ir para Chicago, EUA, trabalhar como babysitter.” Aceitou de imediato o desafio e mudou-se para Chicago. “Hoje já sinto as coisas de maneira um pouco diferente […] mas o que senti naquele dia, naquele avião… é difícil de explicar. Ia ver o mundo, como me disse a minha mãe.”
Mais tarde, Diana passou quatro meses a trabalhar na Suíça. “Estive […] a trabalhar numa pastelaria. Fazia limpezas e ajudava a fazer pão e bolos”. Foi nesse tempo que surgiu a oportunidade de partir para o Quénia como voluntária. “Vi uma publicação no Facebook da Casa da Juventude de Amarante. Já tinha feito voluntariado com eles no Luxemburgo, República Checa e Portugal. Eles andavam à procura de dois voluntários para irem para o Quénia durante um ano. ‘Eu posso ser uma destas pessoas’, pensei. Inscrevi-me e no dia seguinte recebi uma resposta positiva.”
O mais complicado seria informar os familiares e amigos daquela decisão. “Foi uma situação difícil. Quando lhes disse anteriormente que ia para os EUA ou para a Suíça reagiram bem. Mas quando lhes disse que ia para o Quénia, para África, aí o caso mudou de figura. Mas claro que aceitaram e pouco tempo depois, estavam a apoiar-me imenso.”
O primeiro ano no Quénia estava enquadrado no projeto de voluntariado da Casa de Juventude de Amarante e da União Europeia, o Serviço de Voluntariado Europeu (SVE). Terminado esse ano, Diana decidiu ficar. Encontrou algo que a preenchia, que a fazia feliz. “Cerca de 200 crianças são motivo mais do que suficiente para não desistir. Eu não quero – nem vou – desistir de uma coisa que me preenche, me faz feliz e, ao mesmo tempo, faz os outros felizes. Nem sempre as coisas são como eu idealizei, mas ainda assim, vale a pena. Todos os dias.”
Diana partilha a sua experiência de vida e de voluntária nas favelas do Quénia, através de uma página no Facebook e num blog chamados “Há ir e voltar”. A página já tinha sido criada, “surgiu enquanto eu andava a viajar pela Europa, América e Ásia. Sempre gostei muito de escrever e sentia-me bem a fazê-lo enquanto andava a viajar. Quando fui para o Quénia decidi continuar com a página e blog e ia contanto às pessoas o que via e sentia; as minhas alegrias e as frustrações.” Depois de algum tempo percebeu que a página era mais do que um espaço para partilhar a sua experiência, mas essencialmente para pedir ajuda sempre que necessário: “Tudo o que já conseguimos, foi alcançado através da nossa página no Facebook”.
Diana afirma que não estava preparada. “Não fazia ideia do que ia encontrar, ainda não tinha visto o suficiente para saber que as pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza não são apenas uma minoria.” Diz ainda que se lembra de sentir-se zangada por sempre ter “ouvido relatos de como são as coisas aqui e, afinal, nunca estive perto de imaginar como as coisas são de verdade. É por isso que me custa tentar explicar como é a vida aqui, como são os cheiros, as casas, as crianças e os adultos.“
Vinte e nove meses depois, garante que o “sentimento de lamentação deu lugar a pensamentos sobre como melhorar a vida destas famílias e passar das ideias para a prática”.
Diana, com o seu projeto “Há ir e Voltar”, conseguiu construir duas escolas e apadrinhar 200 crianças. Distribuíram “milhares de refeições […] e centenas de consultas no médico foram feitas”. Para além disso ainda entrega sacos de roupa, uniformes e livros.
Neste momento, Diana está em Viena, na Áustria. Aceitou uma proposta de trabalho temporário. Trabalha no Gabinete de Comunicação das Nações Unidas. “Decidi aceitar por vários motivos: pela experiência, pelo dinheiro, pelas saudades da Europa. O Quénia é um país maravilhoso, que nos dá muito, mas que tira muito de nós também. Às vezes é preciso fazer uma pausa e não ver isso como uma fraqueza”.
Apesar de não estar lá fisicamente, o projeto “Há ir e voltar” continua e Diana vai regressar mal termine o trabalho nas Nações Unidas, até porque “todas as minhas coisas (que não são muitas) estão no Quénia”.
A jovem não sabe quanto tempo mais vai ficar por terras africanas, apenas sabe que enquanto fizer sentido vai continuar a trabalhar para melhorar a vida de muitas pessoas. “Fico até sentir que devo ficar, fico até que deixe de fazer sentido eu lá estar. Se esse dia nunca chegar, fico para sempre. Sinto que o Quénia é Casa…”.
No entanto, sabe que nunca vai poder dizer que o trabalho no Quénia está terminado: “tenho agora a noção de que o pensamento “eles já não precisam de mim”, nunca vai chegar. Se algum dia decidir terminar o meu trabalho no Quénia será certamente por outras razões, mas não por já ter todo o trabalho feito.”
Diana fala com carinho e emoção do país que a acolheu nos últimos dois anos e meio e não tem dúvidas em dizer que esta experiência a mudou para sempre, e para melhor: “claro que é uma experiência que me está a mudar para sempre e que, arrisco-me a dizer, está a dar rumo à minha vida”, e acrescenta: “relativamente ao meu desenvolvimento como pessoa, não consigo expressar esse desenvolvimento por palavras. Tenho tantos momentos no meu coração e na minha memória, recordações e sorrisos que não têm preço.”
Diana termina com um pedido: “toda e qualquer ajuda é bem-vinda! Sozinha, eu não poderia fazer nada. Absolutamente nada! Tudo o que já conseguimos conquistar, muito ou pouco, foi fruto do trabalho e bondade de muita gente”.
O movimento rotário tem-se constituído como uma importante ajuda ao projeto. “Conheci o Rotary mais a fundo há um ano, quando fui contactada pela Teresa Santos, do Rotary Club Gaia Sul. O Clube ajudou com dinheiro para a construção da escola e para o apadrinhamento de crianças.”
Depois disso, Diana conheceu o Governador do Distrito 1970 desse ano rotário (2015/2016), António Vaz e a sua esposa, Marlene Ferreira, quando foi convidada para apresentar o projeto. “Trataram-me como se fosse da família já há muitos anos e ajudaram em tudo o que puderam”.
Recebeu ainda ajuda financeira do Rotary Club de Amarante e do Rotary Kids de Vizela, que “angariou cerca de 3500 euros […]. Foi incrível a mobilização que a Paula Oliveira e as crianças conseguiram.”
Kibera é considerara a maior favela do mundo, com mais de 2,5 milhões de habitantes. É flagelada pela pobreza, pelo saneamento precário e pela SIDA/HIV.
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