Os recursos hídricos e saneamento, uma das seis áreas de enfoque do Rotary, são uma preocupação local de importância mundial. Para descobrir porque estas necessidades básicas continuam a ser um problema crítico em países em desenvolvimento, o Rotary tem escutado muitos especialistas e tem identificado problemas onde continuamente tem atuado para criar uma mudança sustentável.
É urgente refletir sobre as nossas prioridades. A cada 20 segundos, uma criança morre no decurso de problemas causados por falta de saneamento adequado. Mais crianças com menos de cinco anos de idade morrem de diarreia (frequentemente causada por agentes patogénicos encontrados em água contaminada) do que de sida, malária e sarampo juntos.
A sida ou a malária recebem tanta atenção que as pessoas pensam que estas são as principais doenças, e isso não é verdade. Há muito por fazer. As verbas doadas pelas grandes empresas e instituições para iniciativas hídricas e de saneamento, nem sempre chegam ao destino. Um estudo de 2010 das Nações Unidas – Water Global Annual Assessment of Sanitation and Drinking-Water – revela que apenas 42% desses fundos beneficiam países com dificuldades económicas e são encaminhados para eles, e apenas 16% apoiam sistemas básicos de fornecimento de água.
Colocar os recursos hídricos no topo da agenda global faz todo o sentido. Por exemplo, crianças que sofrem de diarreia por causa dos agentes patogénicos na água que consomem não conseguem reter os nutrientes dos alimentos se não ingerirem água limpa.
Sai muito mais caro fornecer alimentos do que água limpa. Se começar com água limpa, não vai precisar de tanto dinheiro para alimentos, dizem os especialistas. Melhorar o acesso à água limpa e saneamento ajuda a aumentar os índices de alfabetização entre mulheres e meninas que muitas vezes não vão à escola porque passam o dia a transportar água, ou reduz as faltas à escola por causa da diarreia. Para cada dólar atribuído a projetos de saneamento há um retorno de até nove dólares em desenvolvimento económico.
É necessário ajudar as populações mais carenciadas a operar uma mudança de comportamento e educar as pessoas para acabar com a defecação em campos, prédios abandonados e bermas das estradas. Em muitos países sub-desenvolvidos a água disponível nos espaços públicos, em estações ferroviárias ou hospitais está contaminada com excrementos. Grande parte das amostras recolhidas apresenta contaminação por coliformes fecais. Em vez de potável a água é letal!
A mudança de comportamento leva muito tempo. Portanto, é preciso que grupos humanitários continuem envolvidos nas comunidades em que trabalham. A mudança precisa de ser de longo prazo. Por exemplo, se a água for recolhida e transportada em recipientes sujos, os nossos esforços serão em vão.
Quando as famílias que vivem na miséria recebem de uma associação sem fins lucrativos uma instalação sanitária no valor de duzentos e cinquenta euros, ela acaba por ser o seu bem mais valioso. Mas quando tudo o que têm são duas cabras, essa latrina é vista como um luxo e acaba a ser utilizada como sala de orações ou de estudos, e a defecação ao ar livre continua. É aí que temos de atuar para mudar comportamentos sobre higiene e saneamento.
As estatísticas não mentem. Dos 7 biliões de pessoas que vivem no mundo, 37% não têm acesso a saneamento básico e 20% vivem com menos de um euro por dia.
A água é uma questão local. Em alguns lugares há abundância, noutros escassez. Algumas águas são poluídas por produtos químicos, outras por fezes.
Muitos doadores, incluindo Rotários, ficam encantados com certas tecnologias de saneamento, sejam simples filtros de bioareia ou tecnologias mais avançadas que usam raios ultravioleta. Mas a tecnologia é apenas uma peça do quebra- -cabeça. O treino, capacitação, financiamento sustentável e liderança são igualmente importantes para a sustentabilidade dos programas.
No final, não importa a qualidade da bomba ou do filtro de água se não houver um sistema para garantir que continue a funcionar. Este é um grande desafio para as instituições que operam no terreno, como o Rotary.