Do ponto 5º do nosso Estatuto Editorial consta expressamente que PORTUGAL ROTÁRIO “não deve dar, nas suas páginas, acolhimento a polémicas que se situem fora do espírito de tolerância e do respeito mútuo”. Esta formulação de princípio, virtuosa mas não isenta de dificuldades na sua aplicação concreta (é dalguma maneira subjectiva a avaliação “in casu” do que é que se situará já “fora do espírito de tolerância e do respeito mútuo”…), tem orientado a Revista no sentido de se abster de dar guarida a todas as polémicas, pelo menos como medida de prudência.
Vem isto a propósito da existência no “campus rotário” do nosso País de uma Instituição de elevadíssimos méritos que um grupo generoso de Rotários criou há largas décadas, quando em Portugal existia somente um Distrito Rotário e ele tinha a designação de 65. É admirável a vários títulos o trabalho por ela desenvolvido ao longo de toda a sua já alongada existência. Um trabalho do qual muitos jovens estudantes beneficiaram já, e mesmo a sociedade no seu todo.
Contudo, o andar dos anos se iria encarregar de evidenciar algumas “incomodidades” que se vêm adensando e que têm vindo a gerar dispensáveis crispações. Vistas bem as coisas, existirão razões de reparos, porventura desde a origem dela, mas que, podendo ser ultrapassadas ou rectificadas, como podem, não se afiguram justificativos, só por si, para algumas das atitudes extremadas que se vão perfilando: “est modus in rebus…”.
Desde logo a denominação que lhe foi dada não terá sido a melhor. Para além de “ser dos livros” que Fundação Rotária só existe uma em todo o mundo – a centenária Fundação Rotária do Rotary International, ou, à inglesa, The Rotary Foundation, que é alvo tratamento no “nosso” Manual de Procedimento (toda a Parte 4, e no Regimento Interno do R.I., art. 22) -, e a despeito de nele se mostrarem previstas Fundações Associadas a ela (ut. referência breve no Ponto 16 do Glossário), subordinadas, porém, a determinadas condições, valha a verdade reconhecer que, em termos práticos, desde logo a designação que ostenta tem sido mais que frequente causa de confusões e de equívocos nas cabeças de muitos Rotários Portugueses. Eu próprio já tive ensejo de ouvir da boca de “formadores”, em acções de formação distrital, o erro palmar de (des)informarem que é tudo a mesma coisa, “soit disant”: dizer Fundação Rotária Portuguesa ou dizer Fundação Rotária.
Claro que, assim, não será de pasmar o quanto campeia por aí de desconhecimento das notas distintivas entre as duas Organizações, como não haverá razões sérias de estranheza perante a atitude de não reconhecimento da parte do R.I. relativamente à existência da FRP, atitude que nem deverá merecer vislumbre de espanto por isso que a FRP não é, sequer, uma “Fundação Associada” da Fundação Rotária, ou seja instituída sob a observância dos condicionalismos que a esta categoria presidem.
E, sendo assim, será que a FRP é o anátema? Coisa condenável e hostil? De quanto já se disse resulta que a resposta só pode ser a negativa: ela é de grandes méritos e tem um lugar importante, que ocupa com denodo. Mas deve confinar-se ao seu especial munus. Deve ser apoiada por todos nós exactamente no mesmo patamar em que qualquer de nós deve apoiar toda a organização que persegue um fim útil e respeitável: uma Misericórdia, uma associação de cultura, ou de bem-fazer, etc. Exclusivamente com doações voluntárias. E muitos de nós assim o fazem.
Não deve, porém, manter-se a coberto de uma denominação geradora de confusões que possam ser caldo de cultura (e têm sido) de aproveitamentos equívocos, como não deve receber fundos do Rotary como Instituição, seja a que título for, cobrá-los, geri-los ou encaminhá-los na sua consignação.
No fundo, trata-se apenas de separar as águas e de observar a limpidez da transparência, para bem de todos, nos quais incluímos a própria.
E, feitas estas observações, ajudemos quem queiramos num clima de sã concórdia.
É Natal! Que o leitor o viva com alegria e paz e tenha à sua espera um esplendoroso Ano Novo, são os sinceros votos do seu Companheiro fiel,
Artur Lopes Cardoso
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