AS CONSEQUÊNCIAS
Seguindo a mesma metodologia observada na 1ª Parte da nossa dissertação analítica do tema, igualmente, mas agora no que tange a consequências, podemos vislumbrar duas espécies destas: as que acabaram por ser o resultado lógico e previsível das causas remotas, e as que determinaram o que, por reportadas a causas próximas, acabaram por nos “brindar” com o trágico e altamente censurável ano em que ainda nos encontramos, ou seja o de 2017.
No que se refere a consequências emergentes das causas remotas, de há décadas a esta parte que, todos os anos, várias das nossas zonas de floresta ardem e nada é feito para evitar isso. Aliás, e neste aspecto da área ardida, viemos a tornar-nos em lastimáveis campeões da Europa e, apesar da nossa pequenez territorial, por exemplo o que ardeu em 2017 foi praticamente equivalente a mais de metade das áreas somadas, com fogos, de todos os outros países da Europa.
Nunca alguém é culpado politicamente pelos incêndios florestais que se vão abatendo sobre o País: apenas se procura descobrir e punir incendiários (por vezes inimputáveis), o que, como é de meridiana evidência, nada tem que ver com prevenção de fogos ou com ordenamento florestal do território.
De resto, e aqui, a situação é de tal maneira grotesca que é sabido que mais de 70% dos Municípios ou não têm nenhum plano a tal respeito, ou, quando o tenham, nada fazem para o pôr em prática.
Claro: afivelando grave expressão e compungida hipocrisia, mandam-se abrir muitos inquéritos, vários deles assegurados por sábios peritos, inquéritos que, porém, na sua esmagadora maioria a nada de concreto conduzem. Mas fazem-se manifestações de consternação e promessas de ajudas estaduais, designadamente materiais. Parece que, finalmente, irão conceder-se ajudas a quem foi vítima dos fogos deste ano. Oxalá assim seja mas esperamos para ver até que ponto, pois que ainda estão por cumprir as prometidas ajudas congéneres do Estado relacionadas com anos anteriores: que o digam os casos de S. Pedro do Sul e da Madeira.
Fazem-se cada vez mais leis, que, no entanto, não saem do papel.
E foi-se progressivamente “diabolizando” o eucalipto… Pelos vistos, ele é que será o “mau-da-fita”!? Esquecem-se, por um lado, que a exploração do eucalipto tem sido das actividades que maiores réditos têm alcançado em benefício da economia nacional, e, por outro, que bastará analisar com algum cuidado o que se tem passado com os fogos florestais que têm ocorrido para se verificar que raramente ocorrem em eucaliptais (é que estes, na sua grande maioria, têm sido plantados … por quem sabe como isso se deve fazer).
A falta de visão correcta do problema levou, veja-se!, a que pouco mais de 10 milhões de Euros da verba disponinibilizada, neste ano, pela União Europeia ao nosso país (que foi de perto dos 60 milhões de Euros) foram efectivamente aplicados na prevenção dos fogos florestais. Ou seja, continuaram as questões básicas do reordenamento florestal e da prevenção a ser tolamente encaradas como … matérias de somenos importância!
E quanto a consequências de causas mais próximas foi o que se viu já neste ano: falhanço clamoroso do “Siresp”, incêndios exponenciais, absoluto descontrole e descoordenação da “Protecção Civil”, mortes como jamais acontecera, e de longe. O desnorte patético atingiu proporções tais que até o número de vítimas mortais andou a ser questionado e confesso que acho que ainda estamos com dúvidas a tal respeito.
No que se refere a perdas de vidas, houve-as até no que tangeu a quem se aplicava no combate aos fogos.
A nossa insuficiência de meios para o combate aos incêndios florestais revelou-se tamanha que, no sentido de a suprir, até fomos “invadidos” – discretamente… – por forças estrangeiras, designadamente da vizinha Espanha.
Como sempre, não se tiram consequências nem se apuram responsabilidades políticas. E as “altas esferas” aguardam fundamentalmente que passe o verão e venham tempos mais frescos, possíveis chuvas, para o mais rapidamente possível se esvaziar de importância o que aconteceu, por muito grave que tenha sido (e manifestamente foi). E outro ano se seguirá, muito provavelmente pior que o que o antecedeu.
As culpas jamais são assumidas por quem governa (?!): invariavelmente pretende-se que são dos outros…
E é, sobretudo, sob esta cobarde dialética a discussão que se ouve.
Continuamos a não ter uma análise séria de um problema nacional de gravíssima dimensão. Mesmo recente lei, que já foi complementada com outras de menor abrangência, foi atamancada à pressa pois que a Assembleia da República ia fechar para gozo de férias. E isso deve ser causa de preocupações e evidência de ligeireza imprópria.
Ademais, é, a nosso ver, condenável que, nem sequer com relação a este magno problema, se consiga convergência de todos os partidos que dizem representar-nos.
São de louvar, e muito, os Bombeiros, que acabam por ser também vítimas de todo este condenável estado de coisas. Pelos vistos, até na alimentação que, por lei, lhes é devida quando em operações de combate aos fogos, a lamentável “Protecção Civil” incumpre.
Mas a principal vítima é o Povo Português, pois é merecedor de bem melhores chefias e, não obstante as não ter à altura, e de ser fortemente lesado por isso mesmo, vem revelando um fortíssimo espírito de solidariedade e de solicitude, muito superior aos daquelas. Honra, pois, a ele!
Era coisa dantes repetidamente observada pela sabedoria popular: melhor é prevenir que remediar.
Por cá, porém, remedeia-se, mas mal. Muito mal mesmo, infelizmente.
Sem comentários! Seja o primeiro.