Por Artur Lopes Cardoso
1ª Parte
OS ANTECEDENTES REMOTOS – I
É na verdade isto (o que faz o título desta abordagem) quanto parece que quem manda no nosso País anda a fazer. E anda a fazé-lo desde há largo tempo. E, depois, as coisas acontecem e, paradoxalmente, ainda fingem admiração pelo facto de acontecerem!
As “altas esferas” europeias desde há muito que manifestam a opinião de que Portugal deve ser um país de florestas, no essencial. Será esse parecer bem fundamentado? Não o será quanto isso? Pouco importa. Valha a verdade que se reconheça que a maior parte do nosso território é de floresta e muitos dizem (certamente que com um ressaibo de hipocrisia) que assim é, de facto.
Os mais antigos, quanto eu, ainda se lembrarão por certo de que o Decreto-Lei nº. 13.969, de 20 de Julho de 1927 criara uma organização denominada Junta Autónoma de Estradas. A esse tempo, estava integrada no Ministério do Comércio e Turismo. No âmbito das suas competências e atribuições o País tinha sido dividido em cantões, cada um com cerca de 50 kms.2, em média, e neles operavam os cantoneiros da estrada. Eram homens que reparavam pequenas mazelas que o piso das estradas por vezes apresentava, especialmente as alcatroadas, e limpavam as suas bermas e as valetas, assegurando que a vegetação espontânea não se aproximasse demasiado da via.
O leitor porventura ainda se lembrará das graciosas “Casas de Cantoneiros” que lhes serviam de apoio, justamente junto das estradas.
Pois bem: em 2007, 7 de Novembro, cria-se uma coisa denominada “Estradas de Portugal”, com sede em Almada, e desaparece a JAE, assim como se extingue a profissão do cantoneiro. Veio depois a “Infraestruturas de Portugal”. Mas aquela seria a primeira machadada nos trabalhos de manutenção e de prevenção e limpeza da floresta. E todo o vasto património construído das tais “casas de cantoneiros” para ali ficou, de um modo geral, a apodrecer.
Actualmente, podem percorrer-se as estradas que se quiserem, especialmente as do interior, e é quase omnipresente o desleixo da limpeza das bermas das estradas.
Mas a coisa não se quedou por aqui. Um pouco mais tarde, certo Governo teve a “brilhante” (?!) ideia de extinguir o Corpo Nacional da Guarda Florestal (CNGF), mais conhecido por “Polícia Florestal”. Era um serviço operacional da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) que existia sob o comando do directorgeral dos Recursos Florestais e se encontrava disseminado pelos Serviços Regionais da DGRF.
Pois o dito Governo, em 2006, acabou com ele e colocou os seus efectivos basicamente na GNR, com atribuições que, no essencial, eram de fiscalização das actividades cinegéticas, da pesca e de ilícitos ambientais no espaço agro-florestal.
Retenha o leitor que o assim extinto Corpo Nacional da Guarda Florestal tinha sido o primeiro corpo policial português a exigir o nível secundário complementar para admissão dos seus agentes.
E, como uma asneira raramente vem só, certo Secretário de Estado, agora de outro Governo, este assegurado por uma coligação (o inefável ignorante que vendeu o voto por queijo…, lembram-se?), acabou de vez com os Serviços Florestais, integrando-os numa coisa designada por Instituto da Conservação da Natureza.
A partir daqui Portugal virou um lamentável fenómeno: com vasta área de floresta, se calhar passou a ser o único país, em todo o mundo, a não ter Serviços Florestais, designadamente a não dispor dum Corpo de Guardas Florestais!
Entretanto, toda a gente conhecia uma realidade sociológica (menos os nossos dirigentes, já se vê, ou, pelo menos, não sabem extrair daí todas as consequências), uma realidade que fora cada vez mais modificando o País. Refiro-me à desertificação do interior cumulada com o envelhecimento da população. Aliás, chegaram a ouvir-se recomendações aos mais jovens da população, no sentido de que emigrassem…
Daqui derivou, além do mais, que aquela acção de limpeza de matas e de matos que as populações dos meios rurais até ordinariamente faziam (mormente para destino de consumo doméstico), deixou de se fazer.
Resultados: terras sobre terras aráveis ao abandono, matas sem limpeza. Era óbvio.
A todo este deplorável quadro considere, ainda, o leitor o fenómeno do aquecimento global, um facto que só certo político (?!) norte-americano de mente perturbada não admite como uma preocupante realidade.
E foi aqui que chegámos: as nossas florestas acabaram por tornar-se “barris de pólvora”, aptas a arderem facilmente em face do menor estímulo ígneo.
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