A Associação S.O.G.A. – Servir Outra Gente com Amor, tem como propósito a promoção e defesa dos direitos humanos, no âmbito de projetos nacionais e internacionais de apoio ao desenvolvimento humano. A Associação apoia especialmente a Ilha de Soga, do Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, e tem como principal objetivo alcançar a melhoria das condições de vida da população que vive em pobreza extrema.
Atua nas áreas da Saúde, Educação, Sustentabilidade e Solidariedade.Damos a conhecer melhor o seu trabalho, nesta conversa com a presidente da associação, Margarida Coelho.
– Como é que uma associação nacional entendeu atuar na Guiné-Bissau?
O professor Fernando Castro, na altura membro da Promundo, viaja até à Guiné-Bissau e dá conta da pobreza extrema em que se vive. É ele que dá as primeiras oportunidades aos jovens da ilha de Soga, financiando, ele próprio, as primeiras bolsas de estudo. Em 2011, vítima de falta de insulina, na Guiné-Bissau, o Fernando Castro morreu. Outros membros, que estavam com ele, sentiram a imperiosa missão de continuar aquilo que o Fernando começara.
Por isso, em 2015, nasceu a S.O.G.A. que atua na Guiné e deu continuidade a esse projeto.
– Asáreas em que trabalham são tambémas de intervenção do Rotary. Como surgiu a ligação da Associação ao Rotary?
A Associação esteve ligada a 3 clubes Rotary:
Clube Rotary de Dorsten – Alemanha – financiamento de um contentor (2018) eajuda na construção do atual posto de saúde, metade do valor total necessário (2022);
Clube Rotary de Montemor-o-Velho – financiamento de uma bolsa de estudos a um jovem durante 3 anos (2019 a 2022);
Clube Rotary da Figueira da Foz – donativo para ajuda na construção de um furo de água (2020); donativo para ajuda da reconstrução do telhado da escola (2021) e colaboração no nosso almoço solidário (2022).
– Atualmente tem ainda algum projeto com intervenção rotária?
Não.
– Como surgiu a ideia/projeto de apadrinhamento bem como a do jardim infantil em Guiné-Bissau?
O Projeto de Apadrinhamento surgiu no final de 2017, na sequência de várias visitas à Ilha de Soga, em que se verificaram necessidades básicas das crianças e jovens ao nível da educação. O projeto nasce para que essas crianças e jovens tenham acesso à educação e possam aprender a ler e a escrever, pois o ensino, na Guiné-Bissau, é pago em todos os anos de escolaridade. Com a ajuda dos padrinhos, garante-se que as crianças com mais necessidades possam ter acesso à educação. A S.O.G.A. tem colaboradores no terreno que avaliam as necessidades reais das famílias e identificam as que mais precisam de apoio.
O projeto do Jardim de Infância nasceu em 2014, na sequência de uma visita à Ilha, e por algumas mães terem pedido o jardim de infância para os seus filhos. O projeto é implementado através de fundos oriundos da Escola Secundária Lima de Faria que, ano após ano, vai angariando o dinheiro necessário para a construção da sala. Em 2018, o Jardim de Infância é aberto a 50 crianças que o frequentam em dois turnos.
– Também se dedicam à atribuição de Bolsas de Estudo. Como funciona tal projeto?
A S.O.G.A., tendo como principal missão o desenvolvimento do indivíduo e da sua comunidade, através da Educação, tem vindo a financiar os estudos de jovens que têm vontade de estudar e ter um futuro diferente. É feita uma seleção através da candidatura destes jovens. A igualdade de oportunidades de género tem sido sempre uma preocupação da Associação. Ao longo destes anos, tem vindo a apostar na formação de jovens a nível do ensino secundário, superior e, mais recentemente, ao nível de cursos profissionais. As crianças da ilha de Soga podem estudar na ilha até ao 6º ano. Após este percurso, não há saídas para os jovens que queiram continuar a estudar e procurar outras oportunidades de vida. A solução é continuar os seus estudos noutra ilha (Bubaque) ou no continente (Bissau), conforme o ano de escolaridade. Mas, sendo esta comunidade muito pobre, as famílias não têm capacidade para financiar os estudos dos seus filhos fora da ilha. Neste sentido, e tendo por base os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, a S.O.G.A. criou um programa de bolsas de estudo para apoiar financeiramente os jovens que queiram completar os seus estudos fora da ilha.
– Têm tido sucesso?
Sim. Temos atualmente 45 bolsas de estudo (do 7º ano até ao 4º ano do ensino superior), sendo que, a continuidade da atribuição da bolsa exige o aproveitamento no final do ano escolar. No ano letivo 2021/2022, 4 dos nossos bolseiros tiveram prémios de mérito atribuídos pelas escolas que frequentaram.
– Uma das iniciativas da Presidente do Rotary International, Jennifer Jones, para o corrente ano rotário, é o empoderamento de meninas (empoweringgirls). A SOGA também atua nessa vertente?
Sim.Tem sido sempre uma grande aposta da S.O.G.A. dar oportunidades que permitam esse empoderamento, através de projetos ao nível da sustentabilidade e da Educação. Por um lado, temos apostado na formação ao nível da costura e da agricultura (hortas comunitárias) e ajuda na aquisição de material para trabalhar nessas áreas. Por outro lado, a maior aposta tem sido ao nível da Educação através da atribuição de bolsas de estudo às meninas que não têm as mesmas oportunidades. Por isso nasceu o ‘Projeto Carlota’ que começou com 4 meninas e que, este ano, tem 27 meninas a ser apoiadas. O rosto deste projeto é uma boneca negra, ‘a Carlota’, que representa crianças verdadeiras.
– A comunidade Portuguesa tem aderido às vossas ações?
Sim, principalmente ao nível das escolas espalhadas por todo o país, que convidam a Associação para fazer ações de sensibilização e apresentar o projeto junto dos alunos. Mas também a venda de merchandising em feiras, em escolas, na comunidade, amigos e online.
– Quais os resultados concretos da vossa ação neste momento?
Ao longo destes anos, a Associação S.O.G.A. tem vindo a crescer e a ter um impacto muito importante na Ilha de Soga e não só. Temos atualmente 92 crianças apadrinhadas, 45 bolseiros, um Jardim de Infância com 50 crianças; ajudamos a implementar e a manter uma Cooperativa de Costura; construímos e apetrechamos um Posto de Saúde no centro da Ilha; contruímos um furo de água; reconstruímos e eletrificámos uma escola.
– E na sua perspetiva, como é que o Rotary pode ajudar a vossa ação?
Podem ajudar através de donativos, financiando algum ou alguns dos nossos projetos; financiando uma ou mais bolsas de estudo; divulgando o nosso trabalho e colaborando ativamente em iniciativas em Portugal, como caminhadas solidárias, almoços/jantares solidários ou outras.
– Como é que a Margarida, Fisioterapeuta a trabalhar em Portugal, se lembrou de enveredar pelo voluntariado e em especial na Guiné?
Desde a minha adolescência que faço voluntariado, algo que me realiza e preenche. Em Portugal, comecei na Cruz Vermelha e fiz parte de outras atividades de voluntariado.Mas sempre tive o desejo e sonho de sair e ajudar os outros. Já estive a fazer voluntariado em outros países, como o Perú e S. Tomé e Príncipe. Mas a determinada altura, quis juntar-me a uma associação e ter um papel mais ativo e mais prolongado no tempo: algo que eu pudesse ajudar a fazer crescer. E foi assim que, em 2018, me juntei à SOGA. Já conhecia a Guiné (através de uma viagem de voluntariado com a AMI), mas a verdade é que não escolhi o país, mas esta associação tinha tudo aquilo que eu procurava. Tudo começou pelo próprio nome – Servir Outra Gente com Amor, mas também os seus princípios de trabalho – Educação, Saúde e Sustentabilidade, num dos países mais pobres do mundo. Apaixonei-me logo.
– E sua equipa também foi ao terreno?
Sim. Todos os anos, temos voluntários no terreno.Eu já estive 6 vezes e vou fazê-lo novamente este ano. É muito importante o acompanhamento presencial dos nossos projetos. E, acima de tudo, conhecermos pessoalmente todos com quem trabalhamos e, muito especialmente, todos os nossos afilhados e bolseiros. Os nossos projetos surgem através deste diálogo constante com eles.
– Quais são os vossos projetos para o futuro?
Para já, temos alguns projetos que gostaríamos de avançar pela sua importância e relevância. Mas outros vão surgindo através da nossa avaliação no terreno e das necessidades que vão surgindo, especialmente ao nível de parcerias na Guiné.
Educação e Saúde são prioridade
No terreno, a SOGA está neste momento a desenvolver um conjunto de ações, com destaque nas áreas da Educação e Saúde. Nomeadamente:
Melhoria das condições interiores das 4 salas de aula da escola Dr. José Pereira, na Ilha de Soga, onde quadros e mobiliário estão degradados:
– 4 quadros novos
– Mesas e cadeiras
– Armários e estantes
Para além disto, está em curso o projeto para construção de um espaço para confeção de refeições e cantina, bem como a continuação do Projeto Carlota e das Bolsas de Estudo.
A nível da Saúde, destaque para a melhoria das condições de higiene:
– Construção de latrinas
– Construção de um depósito de água e torneiras para lavar as mãos.