Por: Helena Silva
Um incêndio avassalador destruiu, em 2018, mais de 80% do pinhal do Rei (ou Pinhal de Leiria, como também é conhecido). O movimento rotário em Portugal desenvolveu, em março do ano seguinte, uma enorme ação de reflorestação de um dos talhões, plantando mais de 50 mil novos pinheiros. A coordenação desta iniciativa – que terá sido das mais mobilizadoras a nível rotário em Portugal – esteve a cargo do Rotary Club da Marinha Grande. E o então presidente, companheiro Vítor Grenha, partilha os vários momentos dessa ação que ficou na memória de todos quantos dela fizeram parte.
Em 2018, o Rotary da Marinha Grande organizou a reflorestação de um talhão no pinhal do Rei (também conhecido como Pinhal de Leiria). Era, então, o presidente do clube. Conte-nos o que levou o clube a avançar com esta ação?
A título de introdução, a ação de reflorestação de um talhão do pinhal de Leiria,levada a cabo pelo Rotary Club de Marinha Grande, não foi apenas uma ação social ou ambiental. Foi acima de tudo uma ação cultural, um grito de revolta contra uma força da natureza que nos foi adversa – ou contra alguém maldoso, jamais saberemos. O Pinhal de Leiria é um monumento nacional, que o povo deste município muito ama, por razões históricas, por razões económicas, ou por razões lúdicas. Era onde se levavam as visitas para percorrer o riacho, a caminho da praia. Protegia a cidade das brisas do mar. Porque nos oferecia um cenário verde no nosso horizonte visual. Por isso, replantar o pinhal, era como pedir aos deuses que o pinhal voltasse a ser o que era,se não para nós, pelo menos para os vindouros.
Por isso, quando se deu o incêndio que destruiu o pinhal, em outubrode 2017, foi como se morresse alguém da família. E preciso de fazer esta explicação prévia, porque para alguém que mora longe, talvez não seja percetível esta dor, por algo que, aparentemente, é apenas um símbolo ou um bem. E é também uma homenagem a todos os companheiros rotários, e escuteiros, e outros voluntários, e escolas, que vieram de todo opaís, muitos jovens, vieram alguns de Espanha, vieram pessoas notáveis da política e da justiça, vieram ambos os governadores dos nossos dois distritos, literalmente companheiros de Chaves a Tavira, e militares, e que assim se vieram solidarizar connosco. A comunicação social nacional também esteve presente. Acho que foi um momento muito bonito, e nós, clube local, parcerias, governadorias, todos soubemos estar à altura das nossas responsabilidades organizativas. Foi de facto uma ação muito bonita. E eu,que à data era o presidente do Rotary Clube da Marinha Grande, muito agradeço a todos em nome de todos.
Como foi preparado este trabalho?
O pinhal de Leiria, também chamado Pinhal de Rei, tem a área de 11.080 hectares. Se atendermos a que um campo de futebol (internacional) mede 1 hectare, podemos fazer uma ideia do tamanho desta mancha florestal. O pinhal está dividido em talhões, quase todos retangulares, cada um com aproximadamente 30hectares, e separados por caminhos florestais. E cada talhão tem uma gestão diferenciada da sua flora, que é feita pelo ICNF. Nos últimos anos antes do incêndio, os utentes andavam a queixar-se da falta de limpeza do pinhal, ao que a sua administração respondia que isso era um propósito de preservação da natureza. Em 15 de outubro de 2017, 86% desta área ardeu, por causas ainda desconhecidas. Essa tragédia moveu o Rotary Clube da Marinha Grande a programar uma ação de reflorestação,porque esse era também um desígnio do Presidente do Rotary Internacional, Ian Riseley. Ele tinha formulado um programa de preservação do ambiente e de combate a ações que provocam as mudanças climáticas. O projeto consistia em que cada club devia plantar, pelo menos uma árvore, por cada membro associado. Mas reflorestar um talhão que envolvia mais de 50.000 árvores, era uma ação de vulto. E por isso tivemos de pedir apoios financeiros e de companheirismo, e a resposta ainda hoje me faz tremer: é que ninguém disse ‘não’.
Eu lembro particularmente o dia a que eu chamo ‘dia zero’. Nós andávamos à procura de um talhão disponível, onde comprar os ‘pinheiros-bebés’, onde arranjar dinheiro, etc. E naturalmente esta organização foi feita pelo tatear de diversas possibilidades.No dia 25 de janeiro de 2018,o ICNF informou-nos que tínhamos um talhão atribuído. Era o nosso ‘dia zero’. Acresce que os nossos especialistas disseram que o melhor mês para plantar era março, por causa do clima previsto, e por isso o tempo para preparação era pouco. E eu partilhei com todos os companheiros essa dúvida essencial, e de todos ouvi dizer que ‘vamos para a frente’. E conseguimos. Felizmente conseguimos.
Como conseguiram reunir a verba necessária para levar a cabo a ação?
Devo reconhecer que sem os Rotários enquanto organização nacional, sem o entusiasmo do nosso governador Soares Carneiro, sem os Clubes parceiros, que foram o de Leiria, Alcobaça, Oliveira de Azeméis, Pombal e Sever do Vouga, esta ação não era possível. A ação decorreu nos dias 3 e 24 de março de 2018, e terminou com a inauguração, no local, de um marco rotário, para lembrar a todos a ação que ali desenvolvemos.O projeto teve um custo de 29.920 euros. Cada parceiro assumiu um sexto desse custo, e o restante foi financiado através de uma candidatura ao Fundo de Calamidades da Fundação Rotária Portuguesa.
Quantas árvores foram plantadas?
Foram plantados 50.232 pinheiros em sulcos previamente abertos. Foi uma aventura arranjar tantos espécimes, e isso só foi possível com a ajuda de companheiros especialistas.
No dia da ação, quantas pessoas participaram? De onde vieram?
O númerototal de pessoas envolvidas foi de 600, tendo todos recebido diplomas de participação. E não foram mais porque nesses dias choveu copiosamente. Foram registados 22 Clubes Rotários e 6 do Interact, além de vários agrupamentos de Escuteiros, Escolas e Outros.
E hoje, como está esse talhão? E o pinhal, como está?
A situação atual do talhão justifica alguma apreensão. Faltam-lhe 3 coisas: a limpeza do local, com remoção das espécies invasoras, que estão a impedir o desenvolvimento dos pinheiros; eventualmente a adubagem das plantas, para acelerar o seu desenvolvimento; e a reflorestação de pequenas áreas onde os espécimes morreram, ou que ficaram em branco.
Atualmente, o pinhal no seu todo, tem 3 áreas distintas que são: uma área ainda não reflorestada, que o está sendo feita aos poucos;uma área de reflorestação natural, que é, apesar de tudo, a mais viçosa; e uma grande área que foi reflorestada e que vai fazendo o seu percurso, lentamente. A área mais viçosa é onde está a acontecer a reflorestação natural, mas nem todos os talhões têm estapossibilidade. O pinhal no seu todo parece necessitar de uma ação geral de limpeza, antes que arda tudo novamente, mas há promessas oficiais de que isso está para breve.
Como viu o clube esta sua ação? O que sentiram os companheiros ao fazer parte dela? E a comunidade, como viu esta ação do Rotary?
A manifestação que guardo com mais orgulho, no fundo do meu coração, é o testemunho quase desinteressado, que um dia uma companheira nossa me fez, dizendo que à data estava desinteressada do clube, e até admitia pedir a sua desvinculação, mas que esta ação voltou a acender a sua motivação. Passados cinco anos, esta companheira tem tido um trabalho notável de dinamização do nosso clube. E estou convencido de que o Clube guarda dessa ação uma memória notável.
Em relação à comunidade, participou ativamente nesses dias e durante algum tempo recordou essa ação do nosso clube. Mas, entretanto, terá esquecido, como é normal nestas coisas.