Helena Silva/Luís Pinto | RC Marinha Grande
Capacitar cuidadores e técnicos que lidam com pessoas com demência, contribuindo para prevenir ou travar a evolução da doença é um dos principais objetivos do projeto ‘INSANIAM’, criado pelo Rotary Club da Marinha Grande e que recebeu o apoio, este ano rotário, de um subsídio global da Rotary Foundation. “Trata-se de um passo ambicioso, mas fundamental que o nosso clube pretende dar, propondo-se melhorar a resposta na área da demência, seja a quem dela sofre, seja aos seus cuidadores e familiares”, explica a presidente do clube, Maria Arminda Pereira.
Seria impossível colocar esta ação em prática sem parcerias e, por isso, o projeto conta já, a nível rotário, e para além do clube marinhense, com o apoio do Rotary de Leiria, dos Distritos 1970, 4540 (Minas Gerais, Brasil) e 3070 (Índia). O envolvimento da comunidade, através de instituições e entidades, está também a ser trabalhado e é um passo determinante para assegurar a continuidade deste projeto no futuro. Assim, são já parceiros do Insaniam, a Associação Alzheimer Portugal, a Universidade Sénior da Marinha Grande, as Santas Casas da Misericórdia da Marinha Grande e de Leiria, a Unidade de Cuidados na Comunidade da Marinha Grande, o Instituto Politécnico de Leiria (através da sua Escola Superior de Saúde, que manifestou já esse interesse), a Associação Casal Galego e o imprescindível papel da Adeser II.
O projeto foi apresentado publicamente no dia 14 de outubro, numa sessão que decorreu no edifício da Resinagem, na Marinha Grande. Coube ao tesoureiro do clube, companheiro Luís Pinto, fazer a apresentação deste novo desafio, explicando que este surgiu da constatação que, por um lado, os “cuidados que são dados às pessoas com demência são insuficientes” e, por outro, “é dramática a forma como cuidadores e familiares lidam, por exemplo, com os doentes de Alzheimer”. Por isso, adiantou, “pretende-se que a intervenção contribua para retardar e até prevenir a demência”.
O projeto tem como principais metas, esclareceu ainda, “melhorar a qualidade dos serviços e tratamento dos doentes com demência”, “desenvolver atividades de prevenção da demência junto de pessoas idosas”, “apoiar os familiares e cuidadores de doentes nas fases mais agudas de demência” e “promover a aceitação social das pessoas com demência”.
Bolsa de voluntários
O projeto caminhará por fases. Numa primeira, as instituições-parceiras disponibilizam técnicos que receberão formação, darão horas ao projeto e irão desenvolver atividades que possam contribuir para a melhoria da vida dos utentes dos lares e instituições. Pretende-se ainda constituir uma bolsa de voluntários, que receberão também formação, e contribuirão para criar uma resposta integrada para a prevenção e atraso na evolução da demência.
Isabel Sousa, da Alzheimer Portugal, integrou online a sessão de apresentação e falou da importância das atividades como o ‘Café Memória’, enquanto estímulo cognitivo para os doentes e apoio para os cuidadores. Está já em preparação a realização do primeiro ‘Café Memória’, no âmbito do projeto, cuja data será divulgada futuramente.
O projeto está já a dar passos concretos.
No dia 26 de outubro, realizou-se a primeira reunião da equipa técnica, que tem como tarefa a preparação do plano de formação, que irá acontecer nesta fase inicial do projeto. A Equipa Técnica é constituída, atualmente, por colaboradoras das seguintes entidades:
– ADESER II, IPSS;
– Santa Casa da Misericórdia da Marinha Grande;
– Santa Casa da Misericórdia de Leiria;
– Unidade de Cuidados à Comunidade – Centro de Saúde da Marinha Grande;
– Projetos de Vida Sénior;
– Associação Social, Cultural e Desportiva de Casal Galego;
– Junta de Freguesia da Marinha Grande.
Para além disso, começou em outubro a distribuição de um inquérito/diagnóstico junto de todas as ERPI’s (Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas) da área de influência do projeto, no sentido da sinalização dos doentes com demência e identificar entidades que desejem integrar o projeto.
De uma forma sintética, a intervenção centrar-se-á na criação e formação de uma equipa técnica com competências na prevenção e tratamento das demências, que promoverá de seguida, formação prática de segundo nível e desenvolvimento de atividades em colaboração com os técnicos das Entidades Alvo, doentes e cuidadores.
Para a resposta ser abrangente, é fundamental ter associada ao projeto uma bolsa de voluntários, estando, por isso, abertas inscrições a todos que desejem associar-se e fazer parte das ações deste projeto. Serão enquadrados e formados pela Equipa Técnica do projeto.
Para além disso, o projeto está também disponível para apoiar e esclarecer cuidadores e familiares dos doentes com demência que sintam necessidade de apoio e que pretendam integrar as atividades que irão ser levadas a cabo.
Os interessados em fazer parte deste projeto e/ou que desejem receber, periodicamente, informação sobre a sua evolução, poderão contactar a equipa através do email:
Demência no mundo
De acordo com estudo publicado pela conceituada revista científica Lancet “Estimationofthe global prevalenceofdementia in 2019 andforecastedprevalence in 2050: ananalysis for the Global BurdenofDiseaseStudy 2019 (Publicado on-line em 6 de janeiro de 2022 https://doi.org/10.1016/S2468-2667(21)00249-8)), que mereceu aliás ampla divulgação pelos média nacionais, a evolução prevista para as pessoas com demência é a seguinte:
Sendo a estimativa das pessoas com demência na região da Marinha Grande em 2020:
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a demência como uma prioridade de saúde pública.
Em maio de 2017, a Assembleia da OMS aprovou o plano de ação global sobre a resposta de saúde pública à demência 2017-2025, referindo os seguintes dados:
- A demência é uma síndrome em que há deterioração da função cognitiva além do que se poderia esperar das consequências usuais do envelhecimento biológico.
- Embora a demência afete principalmente pessoas idosas, não é uma consequência inevitável do envelhecimento.
- Atualmente, mais de 57 milhões de pessoas vivem com demência em todo o mundo, esperando-se que esse número suba para 83,2 milhões em 2030 e 152,8 milhões em 2050.
- A demência resulta de uma variedade de doenças e lesões que afetam primária ou secundariamente o cérebro. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e pode contribuir para 60-70% dos casos.
- A demência é atualmente a sétima principal causa de morte entre todas as doenças e uma das principais causas de incapacidade e dependência entre os idosos em todo o mundo.
- A demência tem impactos físicos, psicológicos, sociais e económicos, não só para as pessoas que vivem com demência, mas também para os seus cuidadores, famílias e sociedade em geral.
Em 2019, o custo total estimado em resultado da demência foi de US$ 1,3 trilhões, e esses custos devem ultrapassar US$ 2,8 trilhões até 2030, à medida que o número de pessoas com demência e os custos com os seus cuidadores aumentam.
Os cuidadores informais (ou seja, mais comum ente familiares e amigos) passaram em média 5 horas por dia cuidando de pessoas que vivem com demência.