Por: Francisco Banha
CEO Grupo Gesbanha | RC Oeiras
Enquanto Rotário, mas também enquanto cidadão consciente, é com enorme orgulho e satisfação que escrevo o presente texto, onde abordarei a temática do Empreendedorismo e a sua importância para o desenvolvimento sustentado das nossas Comunidades.
Em primeiro lugar, e para que possamos “estar todos na mesma página”, é importante desmistificarmos a preponderância da atividade Empreendedora, assim como o conceito de Empreendedor, que tantas e erradas vezes tem sido associado, em particular nos tempos mais recentes, à arrogância e à ambição desmedida do “grande senhor capitalista”.
Ao nível da atividade empreendedora, e de acordo com diversas instituições internacionais, a sua criticidade está iminentemente relacionada com o facto de os países mais desenvolvidos assumirem como pilar crítico para o seu progresso económico e social o Empreendedorismo e tudo o que gravita em seu redor, nomeadamente o fomento de uma cultura que incentive o risco e a experimentação.
Fazendo uma pequena reflexão, rapidamente compreendemos que esta filosofia e forma de estar na vida se encontra totalmente alinhada com os princípios e valores fundacionais do Rotary International, nomeadamente na capacidade de tomar a iniciativa, contribuir para o desenvolvimento das comunidades e potenciar a geração de impacto para a vida dos cidadãos. De facto, este alinhamento com o espírito Rotário não é meramente conceptual, bem pelo contrário. Como referiu, recentemente, o nosso Companheiro e Past-Governador, Paulo Martins, sendo amplamente reconhecida como essencial, a atividade empreendedora corresponde a um dos maiores desígnios do movimento Rotário através das suas áreas de excelência, como são o caso, da Educação e Desenvolvimento Económico Comunitário, contribuindo para um maior impacto e envolvimento, influenciando, assim, à transformação para uma sociedade mais justa e equilibrada.
Relativamente ao conceito Empreendedor, importa salientar que este se encontra associado a todos aqueles que – quer por conta própria, por conta de outrem ou em ONG -, identificam uma oportunidade, mobilizam os recursos necessários à sua concretização e, posteriormente, apresentam os resultados da respetiva implementação. Ora, acredito que, independentemente da atividade profissional e da situação mais (ou menos) favorável em que cada um dos companheiros se encontre, todos nós necessitamos deste espírito empreendedor de identificar, mobilizar e demonstrar. É, de facto, através de iniciativas e incentivos tangíveis, mas igualmente inspiradores que conseguimos chegar um pouco mais longe, ter sonhos mais favoráveis e crer que conseguimos ir buscar forças onde normalmente elas não existem.
Para o desenvolvimento e motivação da nossa Sociedade e das nossas Comunidades, este espírito e mentalidade inspiracional deverá ser um dos seus pilares transformadores, alicerçado em iniciativas concretas que fomentem (efetiva e especificamente), a sua ativação e prosperidade, totalmente essenciais para a sustentabilidade futura do nosso país. E sendo Portugal exímio e sinónimo de inovação e criatividade (vide os mais recentes Rankings Europeus de Criatividade, que já inclui 7 cidades portuguesas entre as mais criativas), é preciso encorajar a uma cultura mais empreendedora, incluindo hábitos de flexibilidade, de aprendizagem contínua e de aceitação da mudança como normal e como oportunidade, tanto para instituições como para indivíduos.
A título de exemplo prático, e voltando a fazer a ponte entre o espírito Rotário e o desenvolvimento da figura do Empreendedor, recordo que no decorrer do último ano, o Rotary Club de Oeiras, liderado pelo nosso Companheiro António Ribeiro (e em parceria com o Grupo empresarial Gesbanha, que fundei há mais de 36 anos) desenvolveu o programa de capacitação empreendedora EmpreendAct!, envolvendo mais de 60 membros dos Grupos Interact, Rotaract, Rotary e PMEs. No âmbito deste programa, foi possível durante 4 meses sensibilizar todos os participantes para os diferentes instrumentos necessários à elaboração, criação e gestão de projetos com valor efetivo para a Sociedade, potenciando um maior envolvimento e interiorização de um conjunto de competências empreendedoras que serão cruciais para que os mesmos possam fazer frente aos novos desafios com que o mundo diariamente se apresenta.
De facto, o futuro do nosso País (mas igualmente da Europa e do Mundo) tem de estar totalmente interligado com o desenvolvimento da atividade empreendedora, onde a inovação e a criatividade sejam fomentadas, em alternativa a modelos assentes na promoção de iniciativas que assentem em repetição. Para tal, é crucial que o Ecossistema Empreendedor Nacional seja amplamente conhecido por toda a Sociedade, nomeadamente os diferentes instrumentos e mecanismos que se encontram disponíveis para os vários estágios de evolução dos projetos e start-ups que possam contribuir para propagação dos valores que se encontram subjacentes ao Propósito da Causa Rotária.
Neste enquadramento, assistiremos gradualmente ao estabelecimento de uma base mais heterogénea e dinâmica de start-ups diferenciadoras atuando nas mais diversas áreas de atividade quer numa perspetiva empresarial, social, ambiental e/ou cultural. Este movimento empreendedor tornará possível (e fundamental) a promoção de mais histórias de crescimento que irão contribuir para satisfazer a necessidade estratégica de criação de riqueza e bem-estar que o nosso País tanto ambiciona, beneficiando do efeito amplificador/disseminador alcançado (e tendo por base o mérito associado a cada um dos respetivos empreendedores), junto da sociedade portuguesa.
Refira-se, a propósito, que o mérito sendo uma qualidade das pessoas de bem, que reconhecem que isso não serve só para as valorizar, mas, principalmente, para ajudar os outros a encontrar soluções, que contribuam para minimizar sofrimentos e maximizar alegrias e conquistas, depara-se também ele com as iniciativas e ações que, desde sempre, têm sido desenvolvidas no movimento Rotário, e que só recentemente muitas empresas e entidades têm dado relevo. Estou a lembrar-me, por exemplo, da Prova Quádrupla enquanto código de ética, criado em 1932 por Herbert John Taylor (Presidente do Rotary Internacional em 1954-55), que sendo do conhecimento de todos os Companheiros Rotários deve servir de orientação para toda e qualquer pessoa nas suas relações profissionais e pessoais, inclusive, nas iniciativas empreendedoras que decidirem levar a efeito.
Parafraseando o nosso fundador Paul Harris, “Seja qual for o significado do Rotary para nós, para o mundo ele será conhecido pelos resultados que alcançar”, sou da opinião convicta que, enquanto Rotários, devemos assumir este repto, contribuindo para aumentar a consciencialização dos nossos jovens e das nossas Comunidades para o potencial de impacto da iniciativa empreendedora, apoiando os seus projetos, causas e iniciativas de forma a que os mesmos possam suportar a criação de um Portugal (de uma Europa e de um Mundo!) mais justo, próspero e equitativo!