Por Miguel Rijo
PR: Rita, no ano passado o Presidente do Rotary Internacional 2021/2022, Shekar Mehta, lançou, como iniciativa Presidencial o Programa de Empoderamento de Meninas. Como correu o mesmo nesse ano?
RF: Em primeiro lugar, agradeço à Revista Portugal Rotário a oportunidade de, uma vez mais, falarmos sobre este prático programa de Rotary e, assim, divulgá-lo ainda mais. Respondendo à questão, há que reconhecer que, nos distritos portugueses em particular, e nos distritos europeus em geral, o programa foi inicialmente recebido com alguma desconfiança e com a presunção de que o mesmo apenas teria aplicação nos países sub-desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, mas acabou por ser aceite.
PR: Como é que o Rotary em Portugal encarou então tal programa? Ou, por outras palavras, essa desconfiança foi ultrapassada?
Devo reconhecer que tal visão foi, de facto, em geral, ultrapassada, fruto de uma estratégia pensada para tal. Devo referir que chegámos a apresentar nas nossas reuniões ibéricas mais de 41 projetos e muitos ficaram por apresentar.
PR: Que estratégia adotaram?
RF: O Rotary deve ser encarado como uma realidade global e, assim, o que é aplicado num país com sucesso não pode, sem mais, ser replicado em outro.
E a realidade é que, desde o início, o programa foi encarado como algo que na India faria muito sentido, até pelo facto do Presidente de Rotary ser, no ano rotário transato, Indiano, mas na Europa seria inaplicável. Nesta conformidade, o primeiro ato foi realizar reuniões mensais em zoom, conjuntas, com intervenção da Diretora de Rotary, Nicki Scott, os cinco governadores da Península Ibérica, as Embaixadoras e coordenadoras do programa, explicando com aspetos práticos da nossa própria realidade e usando vídeos o que se pretendia.
PR: E foram muito participadas?
RF: Felizmente sim. Tivemos a grata satisfação de contarmos com inúmeros companheiros que colocaram as suas dúvidas e até apresentaram ideias.
PR: E quais foram os passos seguintes?
RF: Foi envolver os jovens e, assim, tivemos reuniões com intervenções do Rotaract e Interact dos cincos distritos rotários da península ibérica.
PR: E em termos de projetos?
RF: Desde o início que foi acordado que cada distrito rotário apresentaria dois ou três projetos concretos no âmbito do empoderamento, alguns com recurso a power point outros com vídeos.
PR: Consegue dar exemplos de projetos?
RF: Sem dúvida. Noto que não foi por acaso que a Presidente de Rotary do ano 2022/2023, Jennifer Jones, adotou este programa como iniciativa presidencial para este ano Rotário. Aproveito esta oportunidade para recordar que no site do Rotary Internacional, no âmbito das iniciativas presidenciais, encontra-se uma área especifica dedicada ao Empoderamento de Meninas (Empowering Girls, no original) contendo ideias práticas de aplicação de projetos aplicáveis em várias áreas de globo.
PR: E em Portugal, o que os Clubes têm feito?
RF: Muito. É um programa que desenvolve e aplica de forma clara o Plano de Ação de Rotary, assim aumentando o Impacto de Rotary, expandindo o seu alcance, envolvendo os associados e, muito em especial, aumentando a capacidade de adaptação. Recordo que, durante este ano rotário, a Presidente Jennifer Jones concentra-se em quatro iniciativas presidenciais para Imaginar o Rotary: como avançar com o nosso compromisso para a diversidade, equidade e inclusão; criar uma experiência acolhedora nos clubes; empoderar meninas e expandir nosso alcance.
Ora, no âmbito da iniciativa que abordamos, do empoderamento, os clubes em Portugal começaram por entender o programa, aferir das necessidades das suas comunidades, prepararem os projetos e depois aplicá-los, e devo dizer que conseguimos apresentar projetos abrangendo todas as áreas de enfoque de Rotary, incluindo o ambiente.
PR: Pode dar exemplos ?
RF: Sim, para já usámos o lema “Nenhuma Menina Fica para trás” e adotando e aplicando tal lema valorizou-se Meninas e Mulheres, criando um espaço educativo e de convívio multicultural que visava o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, entre os 4 e os 16 anos, e o fortalecimento das relações entre famílias e a comunidade. Tal foi feito em Lisboa. Mas mais, criou-se um espaço da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, que acolheu 30 crianças por dia, entre os 3 e os 15 anos (algumas integradas em famílias vulneráveis), onde são realizadas atividades destinadas à promoção de competências relevantes para o desenvolvimento físico e mental das crianças e jovens. Por outro lado, empoderar é entendido como capacitar para o presente e futuro. Assim, há projetos com o foco na angariação de fundos para atribuição de bolsas de estudo, atribuição de carta de condução, apoio a tratamentos de saúde oral (em especial em pacientes oncológicas carenciadas); procurou-se, também, capacitar as crianças e jovens para serem autónomas na condução da sua vida e, por fim, educar e sensibilizar a população masculina para que se reconheça o sexo feminino como seu semelhante, pois apesar de em algumas áreas profissionais e geográficas tal não ser visível; em outras é evidente. Recolha de produtos de higiene, um tema muito sensível. Jantares de recolha de fundos para associações de apoio a vitimas de violência doméstica; Campanhas contra o cancro da mama e recolha de fundos para equipamentos; Palestras; Recurso a projetos já implementados e que se encontravam esquecidos, como “Dress a girl”; Campanhas de sensibilização contra o bullying nas escolas e para os perigos das redes sociais, aliás um tema muito atual.
PR: Então o panorama tem sido positivo?
RF: A iniciativa, como refere a Presidente de Rotary, tem o foco em atividades por meio das quais os clubes possam criar mudanças positivas na vida de meninas, as quais serão as jovens, as mulheres e mães do amanhã. Tal tem por base também a divulgação e o aumento da conscientização sobre recursos do Rotary e especialistas no assunto, incluindo, entre outros, Grupos Rotary em Ação, Equipa de Consultores Técnicos da Fundação Rotária (Cadre) e Bolsistas Rotary pela Paz, a fim de estes contarem as histórias de atividades bem-sucedidas e o respetivo impacto para o público externo e compartilharem histórias de sucesso e impacto no Rotary Showcase e nas redes sociais. Devo dizer que, no que importa ao Rotary showcase, temos ainda muito trabalho a fazer. É importante que os clubes partilhem os seus projetos não só para que os mesmo sejam divulgados, mas também pela oportunidade de serem replicados noutros clubes ou mesmo ser uma forma de os clubes alcançarem parcerias com outros clubes.
PR: E uma palavra final para os nossos leitores…
RF: Apesar do nome da iniciativa presidencial, que não é consensual entre os companheiros, não podemos deixar de aproveitar a mesma para melhorarmos a vida de muitas jovens e mulheres. Há ainda muito a fazer, mesmo na nossa comunidade, dois exemplos claros: um diz respeito ao aumento da violência doméstica, que recai sobretudo sobre mulheres e outro ao facto de, não obstante a maioria dos estudantes universitários serem jovens do sexo feminino, só uma minoria dessas estudantes chega a funções de topo na vida profissional. Pelo que, costumo referir que, acima de tudo, é uma questão de mudar mentalidades e temos a oportunidade de o fazer, pois tal mudança começa na infância e tal é aplicável não só às meninas, mas também aos meninos. Aliás, muitos dos projetos, ainda que apresentados no âmbito desta iniciativa presidencial, são aplicáveis a todos.
Por último, devo dizer que acredito que este programa, o empoderamento de meninas, mais do que tudo é uma oportunidade de os clubes retomarem, mas também de renovarem, parte dos seus projetos, mas essencialmente os seus laços com a comunidade envolvente.