Por Rui Filipe Gil
É com gratidão que posso fazer parte de um Movimento cujo objetivo primordial é desenvolver projetos que possam ajudar a comunidade.
Israel Paródia, de 21 anos estudante do terceiro ano do curso de medicina na NOVA Medical School (Faculdade de Ciências Médicas) em Lisboa, é membro em formação do Rotaract Club de Parede-Carcavelos. Nascido na Batalha mostrou desde cedo uma grande aptidão pelos estudos que lhe valeriam várias bolsas de mérito escolar.
Aos quatro anos iniciou o percurso para concretizar o sonho de vir a ser médico, isto por considerar que é uma das profissões mais nobres da sociedade. Pertencente à comunidade cigana, com a qual se identifica orgulhosamente e tem percorrido um percurso exemplar na luta contra o preconceito da sociedade, tem demonstrado que existem elos comuns entre culturas, como por exemplo o respeito aos mais velhos e a valorização da família. Bolseiro da Fundação Caloust Gulbenkian aspira a ser médico e com a sua experiência de vida como profissional promete fazer a diferença na comunidade.
(PR) Durante a tua vida alguma vez ouviste falar de Rotary?
(IP) Nunca tinha ouvido falar de Rotary. Começei a pesquisar e fiquei impressionado com a quantidade de clubes que existem no mundo inteiro, tal como o número de pessoas envolvidas na missão de contribuir na participação de projetos para melhorar a sua comunidade, que é precisamente um dos objetivos que me move.
(PR) Conheces algum exemplo de um projeto Rotário que tenha impactado a tua vida ou de alguém próximo?
(IP) Uma amiga minha do curso de Medicina foi bolseira de Rotary durante o secundário, o que a ajudou na continuação do seu percurso escolar, permitindo que o seu sonho de ingressar em Medicina fosse cumprido.
(PR) Como te sentes em ter a oportunidade de te juntar à família rotária e quais são as tuas ambições de futuro?
(IP) É com gratidão que posso fazer parte de um Movimento cujo objetivo primordial é desenvolver projetos que, possam ajudar a comunidade. Outra das grandes vantagens é que, existindo outros clubes nacionais e internacionais, permite que os projetos tenham uma dimensão muito superior e possam influenciar muito mais pessoas, o que é muito estimulante.
(PR) Como achas que o Rotary deveria agir junto das comunidades em especial da cigana?
(IP) Eu acho que o Rotary deve ter como objetivo principal o desenvolvimento da comunidade no geral, sendo as comunidades ciganas integrantes da mesma. As comunidades ciganas são muito heterogéneas, pelo que a intervenção deve ser direcionada às comunidades que vivem em bairros sociais o que contribui para a segregação que existe. Eu próprio já trabalhei como mediador e dinamizador de atividades na Falagueira, Amadora. Tenho tido a felicidade de não ter crescido num bairro social, consigo ver a realidade precária que existe nestas comunidades, nomeadamente ao nível da educação dos mais jovens. Portanto o foco principal para mudar esta realidade, para além de mudar este contexto segregador que já existe à partida, através da distribuição das pessoas na malha urbana, é a aposta na educação dos mais jovens.
(PR) Numa entrevista anterior para a Fundação Calouste Gulbenkian partilhaste que “A educação é a principal ferramenta para a integração da comunidade cigana”, gostava que desenvolvesses um pouco este ponto sendo que uma das bandeiras de Rotary é o apoio à educação.
(IP) A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo. (Nelson Mandela). Mandela tinha razão quando utilizou esta poderosa afirmação. A educação influencia-nos em diversos aspetos, mas queria realçar dois. O primeiro é que a educação nos abre os olhos para o mundo em que vivemos.
Permite-nos pensar por nós, combatendo a ignorância. Aquele que é ignorante dificilmente muda de opinião, pois não consegue avaliar o mundo que o rodeia, que está em permanente mudança. Esta virtude de podermos mudar de opinião ou estratégia consoante as vicissitudes que se nos deparam é que nos permite evoluir enquanto seres humanos e sociedade, e está mais facilmente ao alcance daqueles que puderam estudar e que aprenderam a pensar autonomamente.
Em segundo lugar, a educação dá-nos acesso futuro a um emprego estável, que tem como consequência estabilidade financeira, que nos permite ter alojamento digno e sair de um contexto de pobreza e precariedade. A educação permite-nos também chegar a cargos públicos e privados com influência, permitindo uma maior representatividade na sociedade, para que tenhamos voz.
Por todos estes motivos e mais alguns, a educação é a ferramenta transformadora da sociedade.
(PR) Falando de integração, o que pensas que está ao alcance do Rotary para estar mais presente e atuar mais próximo das suas comunidades e fazer a diferença na vida das pessoas?
(IP) A integração de todos os atores sociais deve ser trabalhada todos os dias por todos nós, para que possamos ter todos as mesmas oportunidades desde o início. Hoje em dia infelizmente ainda se fala em equidade, que se traduz em dar um degrau àqueles que estão num patamar mais abaixo, para que todos possam partir do mesmo nível. A equidade tem implícita ainda a desigualdade, sendo o objetivo a longo prazo que a equidade seja transformada em igualdade, partindo todos do mesmo patamar.
O Rotary deve ter um papel na equidade, dando vários grãos de cimento àqueles que estão em condições desfavoráveis, para que, de grão a grão, avancem na construção se suba mais um degrau. Esses grãos de cimento podem-se traduzir em alimentação, em materiais escolares ou em estruturas escolares melhoradas. Simples gestos como dizer: “Tu consegues porque eu também consegui” a uma criança que já acha que não consegue, porque não é capaz, podem mudar uma vida.