O Projeto Utopia obrigou à deslocalização de uma empresa, mas criou um novo conceito de trabalho e de construção, aumentando a qualidade de vida dos funcionários da Plako e a consciência ambiental de todos. 75 mil rolhas de cortiça, 2200 pneus e 11 mil latas de refrigerantes ganharam nova vida.
por Cláudia Oliveira
Rotary assumiu, em 2020, o ambiente como nova área de enfoque. Na verdade, foi apenas a oficialização de uma preocupação que há muito está presente no dia-a-dia dos Rotários. Exemplo disso é a história do Projeto Utopia, desenvolvido, a título empresarial, pelo companheiro Moisés Campos, do Rotary Club de Póvoa de Lanhoso.
Utopia é o conceito de empresa – toda a área exterior e edificação – com base na reutilização de materiais. No edifício, na freguesia de Águas Santas e Moure, foram usados 2200 pneus e mais de 11 mil latas de refrigerantes (para as paredes, depois revestidas de cortiça), placas com materiais de carros em abate e 75 mil rolhas de cortiça no telhado, para drenagem da água da chuva. Não há um único tijolo!
Em 2011, a empresa de Moisés Campos, a Plako (de software na área das novas tecnologias de informação e comunicação), estava sediada no centro da cidade de Braga. Nos meses mais quentes do ano, Moisés percebeu que não podia abrir as janelas do edifício para refrigerar o espaço, porque o ruído e o odor do trânsito condicionavam o trabalho. A solução era ligar o ar condicionado. Deu-se conta que esta era uma solução ineficiente e com uma pegada ecológica pesada. Começou a idealizar um projeto que passou pela construção, com materiais reutilizados, de raiz da empresa, deslocalizando-a, num processo que, assume Moisés, “nunca estará completamente concluídos. Vamos sempre incluindo novas coisas”.
A ideia inovadora levou tempo até encontrar os parceiros ideais, a ideia foi evoluindo (desde uma construção em madeira até aos pneus…) e a construção demorou mais tempo do que aquele que é exigido nas edificações tradicionais: três a quatro anos. “É preciso ter otimismo e resiliência. O processo de licenciamento durou dois anos. Encontramos um construtor que aceitou o desafio. Era a única empresa do país a fazer este género de construção”, explica. Encher cada pneu com terra – chegando a pesar 100 quilos – e empilhá-lo, no processo da construção da parede demora cerca de 15 minutos. Muito mais do que empilhar tijolos.
Encontrado o construtor, o companheiro Moisés precisou de encontrar os materiais aos quais pretendia dar nova vida. Para isso, envolveu a comunidade local de Póvoa de Lanhoso, convidando-os a doar latas de refrigerantes e rolhas de cortiça. O envolvimento foi tal que até os elementos de decoração interior, como os candeeiros, por exemplo, foram desenvolvidos por IPSSs locais, promovendo a inclusão.
O edifício foi assente em pilares, sem tocar no chão, para “o ar passar por baixo e ajudar na eficiência energética e evitar humidade. O ar condicionado foi “trocado” pelas árvores de folha caduca na área exterior ao edifício, onde também existe uma charca, que apoia à rega da exploração agrícola, entretanto criada.
A consciência ambiental deu também qualidade de vida aos 10 funcionários da empresa. “Temos um espaço de trabalho que não é só de trabalho, Há possibilidade de caminhadas, passeios de bicicleta… A maior parte dos funcionário moravam a norte da cidade de Braga e a empresa estava na ponta sul. Demoram praticamente o mesmo tempo a chegar à Póvoa de Lanhoso e constatamos que fazemos o movimento pendular contrário à maioria das pessoas que se desloca para Braga, tendo a estrada livre para nós.”
O projeto implicou investimento de pesquisa, tempo e recursos económicos. “Não somos uma Google! Tivemos de recorrer a crédito para desenvolver este projeto, mas, se nós conseguimos, qualquer um consegue fazer algo pelo ambiente”, incita.
Moisés Campos está, agora onde recebe visitas de alunos de várias escolas que, “ficam admirados e curiosos sobre os materiais utilizados”.
O que está o seu clube a desenvolver nesta área de enfoque? Os projetos que abracem esta temática podem agora ser submetidos a candidatura a subsídios globais (a partir de 1 de julho).