Entrevista de Rúben Bento
O presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários aponta as características que os jovens devem ter à chegada no mercado de trabalho, sem medo de errar, “sem com isso desistir”. Em altura de pandemia, a transição digital nas empresas portuguesas são um bom indicador.
(PR) Somos uma sociedade com cada vez mais jovens empreendedores?
(AM) A nova geração está ávida de mudança e de descobrir coisas novas. Hoje, as fronteiras físicas já nada dizem aos jovens, o mundo é global e as suas ambições também o são. Por isso, quero acreditar que os jovens são encorajados, atualmente, a arriscar mais e a desafiarem-se em novos mundos. Para ajudar neste percurso, penso que as universidades têm tido um papel fundamental, no fomento de projetos novos, sendo muitas vezes palco de incubação de projetos muito interessantes que dão origem a novas empresas.
(PR) Quais os motivos que impelem os jovens para o empreendedorismo? São os corretos?
(AM) Todos os motivos podem ser válidos, o importante é arriscar e não ter medo de falhar. A nossa cultura não permitia o erro, um gestor tinha de ser sempre brilhante, as empresas tinham sempre que vingar. Quando falávamos com empreendedores estrangeiros observávamos que cada um deles já tinha tido uma mão cheia de empresas que tinham fechado, negócios que não resultaram, mas que isso não os travava de continuar. Por isso, acredito que tudo o que possa fomentar o empreendedorismo é positivo.
(PR) De que forma a ANJE apoia estes jovens empresários?
(AM) Este ano, a ANJE faz 35 anos, em mais de três décadas temos pautado a nossa atuação na proteção dos interesses dos jovens empresários, na divulgação pública do empreendedorismo e no apoio à criação de empresas. As nossas iniciativas têm apoiado milhares de empresas e empresários ao longo dos tempos, com vista ao seu crescimento e formação. Exemplo disso foi a estratégia que apresentámos em ano de pandemia, para a Transição Digital, que pretende apoiar 3000 empresas na recuperação económica. Num projeto a desenvolver de forma autónoma, em parceria com municípios, associações setoriais ou outras entidades, a associação irá avançar com um conjunto de iniciativas que permitirão a transformação digital e uma maior capacitação das PMEs e as microempresas, no sentido de as ajudar a ultrapassar uma conjuntura tão adversa como a atual.
(PR) Quais as competências que um jovem deve ter para ingressar no mundo do trabalho?
(AM) A resiliência é sem dúvida uma característica fundamental para quem começa no mundo do trabalho. Um jovem quando termina a sua vida académica tem de estar disponível para aprender, para explorar e para errar, sem com isso desistir. É também fundamental que queira aumentar os seus horizontes, para que possa ser uma mais-valia constante para a empresa onde ingressou. Além de tudo isso, é fundamental que seja um bom ouvinte.
(PR) As soft skills de liderança são uma das áreas que Rotary trabalha e estimula junto dos mais jovens. São determinantes para o sucesso do empreendedor?
(AM) Claro que sim. Hoje em dia, não podemos olhar apenas para o currículo. As soft skills são determinantes, pois são essas competências que permitem encontrar novas soluções, ser inovador e disruptivo.
(PR) Quais as maiores dificuldades que os jovens empresários estão a sentir com a pandemia de covid-19?
(AM) A crise está a ter um impacto brutal nas PMEs. Dificuldades de tesouraria e a morosidade da chegada dos apoios não têm tornado fácil a vida das empresas e consequentemente dos empresários. Resta aos empresários esperar que, em 2021, o efeito conjugado das medidas de apoio às empresas, das primeiras tranches da “bazuca” europeia (Quadro Financeiro Plurianual 2021-27 e Mecanismo de Recuperação e Resiliência) e da vacinação contra a covid-19 faça acelerar a recuperação económica em Portugal.
(PR) Que previsões existem para o mercado de trabalho nos próximos meses?
(AM) É difícil ser otimista neste momento, mas estou convencido que com o princípio do fim da pandemia, quando for possível um desconfinamento mais amplo, o consumo vai disparar e o investimento seguirá, embora mais lentamente, a mesma tendência. Outro aspeto a considerar é a aceleração da transição digital em Portugal, que terá certamente resultados mais sólidos em 2021. As empresas estão a desenvolver um extraordinário esforço para comercializar bens, prestar serviços, organizar processos, gerir tarefas e interagir com clientes remotamente, recorrendo às tecnologias digitais.
Estou convicto de que os avanços alcançados na digitalização do tecido empresarial são irreversíveis e vão tornar a prazo a nossa economia mais competitiva, sobretudo se a transição digital chegar, como espero, a mais empresas, designadamente dos sectores tradicionais.