Estamos perdidas. A bateria do meu telefone está fraca pelo que não arrisco gastá-la toda para poder consultar o mapa do “Google”. Em vez disso, entramos em uma cafeteria e retiro um mapa de papel enquanto a minha filha, de nove anos, pede um chocolate quente. A empregada sorri e pergunta aonde pretendemos ir. Numa pequena folha de papel, ela começa a desenhar um mapa da área repleto de pontos de referência para que eu saiba como chegar até ao Mercado de Kensington. Faz-me recordar os mapas desenhados à mão num guia “Rick Steves”. Agradeçolhe e, quando saímos, a minha filha exclama: -”Uau! As pessoas são tão simpáticas aqui, no Canadá!”.
E é verdade. O povo de Toronto deu-nos uma calorosa recepção na nossa visita à cidade que acolherá os Rotários e seus convidados na Convenção do Rotary International de 2018. Toronto foi moldada por imigrantes, que adicionaram idiomas, costumes e gastronomia, e impulsionaram a economia da cidade. As construções de condomínios estão a avançar rapidamente e, além dos arranha-céus do centro da cidade, Toronto é uma rede dispersa de bairros: de enclaves étnicos como “A Pequena Itália”, ou a ”Pequena Índia”, ou o “Mercado de Kensington”, com seus cafés boémios, e “Yorkville” com as suas casas vitorianas perfeitas para postais ilustrados.
Mas, apesar do tamanho, Toronto é uma cidade segura e fácil de conhecer. As ruas são limpas e os seus 2,8 milhões de habitantes — metade dos quais nasceram em outros países — falam mais de 140 idiomas. O resultado é uma convergência cultural que faz com que nos sintamos em casa, seja lá donde seja donde tenhamos vindo.
No Aeroporto Internacional ”Pearson” pode-se tomar um táxi até à cidade por cerca de 55 dólares, um “Uber” por 35 ou o “Union Pearson Express” por 12, que vai directamente para a Estação de “Union”, perto do Centro de Convenções do “Metro Toronto” (MTCC). O percurso demora 25 minutos a fazer e as composições circulam de 15 em 15 minutos e têm “Wi-Fi” gratuito. Se voar pela “Porter Air”, irá aterrar nas Ilhas Toronto, que ficam a uma curta viagem de barco do centro da cidade (isto a menos que opte por chegar à cidade através do novo túnel pedonal, cheio de passadeiras e escadas rolantes — um trajecto que leva uns seis minutos).
Há muitos hotéis perto dos dois locais da Convenção: o “MTCC” e o “Air Canadá Centre”, que ficam a uma caminhada de 10 minutos um do outro. Faça a sua reserva com antecedência, pois Toronto é um íman de convenções e os quartos são ocupados rapidamente nos meses da primavera e do verão no hemisfério norte. O “MTCC” e o “Air Canadá Centre” ficam perto da costa do Lago Ontário, onde o percurso “Waterfront Trail” é popular entre os ciclistas e um “calçadão” atrai aqueles que preferem caminhar ao longo da margem. Os passeios de barco que oferecem vistas do horizonte, ou um cruzeiro até às Ilhas Toronto, saem do Centro “Harbourfront”. Mas a principal atracção é a Torre CN, que define a linha do horizonte de Toronto.
Inaugurada em 1976, a Torre foi fruto das necessidades: com os novos arranha-céus, ficou difícil para as estações de TV transmitirem os seus sinais pela crescente metrópole. A Torre foi construída para resolver esse problema, mas simbolizou muito mais: projectou a força da indústria canadiana como a torre mais alta do mundo, um título que manteve por mais de 30 anos.
Como atracção turística, a CN foi a primeira torre na América do Norte a ter um andar com chão de vidro — oferecendo uma vista emocionante da Rua 113, que fica logo abaixo. Placas garantem aos visitantes que o vidro é suficientemente forte para aguentar com “14 hipopótamos”. Ainda assim, tive dificuldade em aventurar-me a ir para cima dele. Mas é um lugar que as crianças adoram. Elas saltam, pulam e deitam-se no chão para tirar “selfies”.
Quando o nosso actual Presidente do R.I., Ian Riseley, percorreu Toronto em Maio passado, não se contentou em apenas pisar o chão de vidro. Calcule que fez o Passeio “Edge”: imagine o que será estar com um equipamento de segurança e andar pela torre por uma pequena saliência sem grades a 356 metros acima do solo! Parece assustador? Super emocionante? De qualquer forma, uma máquina fotográfica “GoPro” aplicada no seu capacete capta tudo para que se possa reviver a experiência mais tarde.
De regresso ao solo, há outra atracção logo ao lado. O Aquário “Ripley”, do Canadá, é diferente dos outros aquários das grandes cidades, designadamente no número de experiências práticas que ele oferece. Por 99 dólares canadianos, pode-se reservar um passeio pelos bastidores, que inclui vestir um equipamento de mergulho para alimentar as raias, que clamam pela sua atenção (reserve com antecedência). Um túnel de vidro guia os visitantes para o aquário maior. Todos ficamos zonzos quando os tubarões deslizam sobre as nossas cabeças, e o aquário também está cheio de guiaubas, camurupins, tartarugas marinhas e um tubarão-serra africano impressionante. Para citar a surpresa da minha filha de nove anos: -”É como se estivéssemos dentro do oceano!”.
Pelo caminho, o “Toronto Blue Jays” joga basebol no Centro “Rogers”. O estádio pode acomodar cerca de 50 mil adeptos e é conhecido pela sua cobertura retráctil gigante (patenteada) que pode ser aberta em dias ensolarados e fechada para manter o público quente e seco quando estejam intempéries. O local também recebe outros espectáculos e eventos.
O Mercado de “St. Lawrence”, que fica a uma caminhada de cerca de 20 minutos do MTCC até à Rua “Front”, encabeça a lista dos locais favoritos de muitos habitantes da metrópole para almoçar. A prestigiada National Geographic classificou-o entre os 10 melhores mercados municipais do mundo.
Dentro dele, uma variedade de bancas coloridas saúdam-nos, juntamente com placas e mais placas falando de presunto. O Peameal bacon, para ser mais exacta. Esse corte menos gorduroso das costas do porco é curado e depois enrolado em farinha de milho. Fatiado, grelhado e servido em sanduíches, é a marca registada do mercado — até Barbra Streisand enviou ali a sua assistente para comprar uma sanduíche quando actuou em Toronto.
Frente aos funcionários que preparam as sanduíches de peameal bacon na Padaria “Carousel”, o Carnicero oferece burritos e outros pratos mexicanos. Próximo dali, há delícias turcas que são vendidas a granel. No andar de baixo, os “pierogis ucranianos são repartidos perto de bandejas de lasanha. Muitas das mesmas famílias administram essas barracas há gerações, e as comidas de outras regiões do globo nos lembram quanto é diversificada a população de Toronto.
Mas a mistura impressionante de culturas do Mercado de “St. Lawrence” é apenas uma parte do quotidiano dos moradores de Toronto. -”A diversidade da nossa cidade é algo de muito especial”. – observa Michele Guy, copresidente da Comissão Anfitriã Organizadora de Toronto juntamente com Michael Cooksey. -”Tenho a certeza de que os participantes na Convenção irão ter a sensação de que rodaram muito”. – acrescenta Cooksey.
Um dos locais favoritos de Guy é o Café “La Gaffe”, na Rua “Baldwin”, um café fora das rotas mais conhecidas, com um cardápio de inspiração francesa, paredes de tijolos expostos e uma trilha sonora indie. Muitos visitantes também comem e compram no Mercado de “Kensington”, que fica ali perto. Ao contrário de “St. Lawrence”, o Mercado de “Kensington” não é um verdadeiro mercado, mas um bairro. Ondas de imigrações moldaram e remodelaram a área, que recebeu o nome que ostenta na década de 1920, quando era principalmente um bairro judeu e as famílias vendiam mercadorias em barracas em frente das suas casas. Hoje, ainda é uma comunidade imigrante, mas agora principalmente chinesa, e um centro para artistas e activistas. Pode-se encontrar boas opções de culinária no “Rasta Pasta”, que combina pratos italianos e jamaicanos; no “Amadeu’s”, um local português conhecido pela sua garoupa; e no “Hibiscus”, onde o menu é vegetariano, sem glúten e biológico. Os que adoram carne apreciarão o “Burgernator”, onde se podem pedir hambúrgueres totalmente melhorados com queijo “cheddar”, ovo estrelado, cogumelos, cebolas caramelizadas, alface e tomate.
Um lugar único para jantar e fazer compras é o “Distillery Historic District”, que se tornou em meca das artes e do entretenimento. A Comissão Anfitriã está a planear uma noite com bons pratos e espectáculos nesse local para os participantes na Convenção. Vá a <Rotary2018.org> para saber mais detalhes.
Em 2003, o complexo industrial que uma vez abrigou a destilaria “Gooderham & Worts” foi reconstruído. Fazendo lembrar o “SoHo” de Nova York, mas com um ambiente mais descontraído, esta é uma zona apenas para peões com 80 vendedore ambulantes que vendem de tudo, de decorações até jóias. Paramos na “Heel Boy”, esperando que fosse uma boutique sofisticada para animais de estimação (na verdade, eles vendem é sapatos), e na “Corktown Designs”, que vende jóias modernas de designers do mundo inteiro. Para mais opções de compras, o Centro “Eaton” apresenta todos os principais retalhistas num ambiente de “shopping center” confortável, enquanto “Yorkville” é um bairro de luxo repleto de “boutiques” e restaurantes sofisticados (o pátio no “One” é óptimo para observar pessoas).
Mas o distrito da destilaria não é apenas para fazer compras. Vale a pena também explorar seu passado que é por vezes sórdido. Pare na “GoTours” e reserve o passeio “Booze, Death and Cholera” (Álcool, Mortes e Cólera) para saber como a “Gooderham & Worts” cresceu até se vir a tornar na maior destilaria do mundo (fundindo-se depois com a “Hiram Walker Co.”), controlando grande parte do mercado dos EUA durante a Lei Seca.
Para saber mais sobre a história de Toronto, explore o Casa Loma, o único grande castelo da América do Norte. Foi construído no início dos anos 1900 por Sir Henry Pellatt, depois de ter feito sua fortuna trazendo electricidade para o Canadá (o castelo valia cerca de 17 milhões de dólares em 1911, quando a construção começou). As viagens dele pela Europa inspiraram-no a construir um castelo para si, e grande parte da mobília foi importada. Ele, inclusivamente, encomendou uma réplica da mesa de trabalho de Napoleão para usar nos seus trabalhos, e o seu quarto exibia orgulhosamente um tapete de pele de tigre.
Só que nem tudo saiu como ele tinha planeado. Pellatt e sua esposa, Lady Mary, estiveram menos de 15 anos a viver de forma extravagante na Casa Loma, pois, a certa altura a sua empresa perdeu o monopólio da energia eléctrica. No final das contas, os Pellatts abriram falência e foi leiloada a maior parte dos seus bens. O castelo foi convertido em hotel, que faliu durante a crise de 1929. Em 1937, o Clube “Kiwanis” do oeste de Toronto instalou-se nele e fez dele uma atracção turística, operando aí até recentemente. Considerado uma visita imperdível pelo Rotário Cooksey, ele afirmou que a Comissão Anfitriã está a organizar uma noite para os Rotários ali desfrutarem de um concerto sinfónico nos jardins da Casa Loma com vista para a cidade.
Como muitas outras cidades, Toronto tem dezenas de museus. O maior é o “Royal Ontário”, um museu de história natural cujas peças variam de dinossauros a obras de arte, e atraem mais de um milhão de visitantes por ano. Descendo a rua, terá opção por um museu mais tranquilo e peculiar: o Museu “Bata Shoe”. Não é apenas para pessoas que gostam de sapatos: é um passeio pela história mundial pela evolução do calçado. Admire, por exemplo, o “chestnut crushing clog” (tamanco triturador de castanhas), que parece ameaçador com as suas estacas de 5 centímetros, mas é realmente uma ferramenta francesa do século XIX para descascar castanhas. Um minúsculo par de sapatos de couro preto parece ter sido usado por uma criança, mas foi feito na China para uma mulher com pés ligados. A fundadora do museu, Sonja Bata, também financiou pesquisas de campo no Ártico canadiano e noutras regiões para documentar calçados feitos por indígenas, como botas de pele de rena nas solas para tracção. A colecção também apresenta a sua quota de sapatos famosos, incluindo saltos de plataforma brilhantes que Elton John usou no palco na década de 1970.
É impossível sair de Toronto sem falar em hóquei. O Canadá tem alguns dos melhores jogadores deste desporto, e o seu “Hall da Fama” tem um aspecto de santuário. Quando foi aberto em 1961, o primeiro-ministro John Diefenbaker disse: -”Não há nada melhor que o hóquei para promover a unidade nacional”. O local fica a uma curta distância a pé do MTCC e oferece experiências interactivas, como disputas de pênaltis virtuais com versões geradas por computador dos famosos guarda-redes Carey Price e Henrik Lundqvist, que tentam defender o seu disco. Com quase 1.700 m2, o “hall” também abriga a maior colecção do mundo de lembranças do hóquei.
Numa cidade que abraça a sua identidade como um caldeirão de culturas, todos são sempre bem-vindos em Toronto.
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