Aos 64 anos, Abílio Lopes é o atual Governador do Distrito 1960. Foi militar em Angola, guarda-redes na Seleção Nacional de hóquei patins e Inspetor da Polícia Judiciária. Rotário há 8 anos, acredita que o movimento é um “espelho do mundo” e confessa nunca parar de surpreender-se com o bem que se faz em Rotary.
Nascido em Lisboa, Abílio Lopes foi para Angola com apenas 8 anos de idade. Regressaria a Portugal 14 anos depois, já militar, após exercer funções como funcionário administrativo do exército português, em Luanda, e jurado bandeira, precisamente no dia da revolução de abril. “Um dia que a gente não se esquece. Eu jurei bandeira no dia 25 de abril de 1974, em Nova Lisboa (Huambo). Falava-se que devia ter acontecido qualquer coisa na metrópole nesse dia, mas nada nos contaram na altura. Só depois, quando chegamos a Luanda, é que soubemos o que tinha acontecido no Continente. Um dia que fica marcado. Nunca mais me esqueço do dia em que jurei bandeira.”
Esses tempos não foram fáceis. Com as alterações políticas em Portugal, a guerra civil intensificou-se em Angola. “O 1º de maio de 1974 foi uma altura terrível dentro da cidade de Luanda. Aliás eu só estive debaixo de fogo na cidade de Luanda. Até à independência foram momentos muito complicados. Principalmente para os civis. Eu, como militar, estava mais ao menos resguardado, mas para os civis, e eu tinha lá a família toda, foi muito difícil,” confessa.
Desde sempre ligado ao desporto, o atual Governador do Distrito 1960 tem duas internacionalizações pela Seleção Nacional de hóquei em patins. “Foi na Seleção Nacional, mas foi em Angola. O campeonato do mundo de 74 era para ser em Luanda e foi feita uma pré-seleção de elementos de Angola e Moçambique para fazer parte da Seleção Nacional. Então apareceu a oportunidade de fazermos um jogo internacional com o Brasil e nessa altura fui eu quem guardou a baliza da Seleção Nacional e fiz dois jogos,” revela com algum orgulho.
Em 1976, Abílio Lopes e a esposa, Isabel Lopes, regressam a Portugal onde, já Furriel Miliciano, termina o serviço militar e frequenta um curso de Inspetores da Polícia Judiciária. Aí se manterá, como funcionário de investigação criminal, durante quase três décadas. “É para mim das partes mais importantes da minha vida, esses 30 anos que eu passei na Polícia Judiciária. Não só pela experiência de vida, mas pela oportunidade que nos dá de conhecer o país e as pessoas.”
Para além do trabalho de investigação, Abílio Lopes foi um dos sócios fundadores da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da Polícia Judiciária e dirigente Associação Desportiva Cultural e Recreativa dos Funcionários da Polícia Judiciária, tendo sido jogador e treinador de futebol nas equipas daquela força policial nos campeonatos do Inatel e em torneios internacionais em representação das Polícias Portuguesas.
Como inspetor, o Governador foi representante da Polícia Judiciária em Bruxelas, orientador de estágios e recebeu um louvor atribuído pela Ministra da Justiça de então, Dra. Celeste Cardona, pelo desmantelamento de uma organização criminosa internacional de falsificação de cheques, títulos de crédito e falsas transferências bancárias.
Abílio Lopes fala com saudades dos tempos que passou na Polícia Judiciária, mas nota: “tenho uma filosofia de vida que, quando decido partir para outra fase, envolvo-me totalmente na outra. Aquela fase passou, e guardo-a em gavetas, de vez em quando abro a gaveta para recordar algumas coisas…”. O responsável pelo Distrito 1960 acredita que, depois de 30 anos, “era altura de dar o lugar a outros. É uma profissão bastante desgastante e envolvente e a partir de determinada idade já é demais.”
Adesão ao Movimento Rotário
Apesar de na altura ainda não o saber, a relação de Abílio Lopes com o Rotary teve início em Angola, nos anos 70. “É uma história que já contei algumas vezes, porque acho que é muito curiosa.” É sobre um grupo de amigos: “o Abílio, a Isabel, o Mário, a Teresa e o Vítor.” Esse grupo de jovens viveram no mesmo bairro, estudaram no mesmo liceu, o Liceu Nacional Salvador Correia, e jogaram hóquei no mesmo clube, o Centro Desportivo Universitário de Angola.
Depois, com a independência de Angola, separamo-nos […] e estivemos 30 anos sem nos vermos, sem saber sequer uns dos outros.” Foi com surpresa, conta o Governador, que, passados “trinta anos, viemo-nos a encontrar todos em Rotary. O Abílio e a Isabel”, a esposa, “no Rotary Club de Tavira, o Mário e a Teresa no Rotary Club da Régua e o Vítor no Rotary Club de Olhão, casado com uma rotária, a Maria do Carmo. É muito curioso como é que esses cinco jovens abraçaram o Movimento Rotário, sem nunca terem ouvido falar dele em Angola.”
Abílio Lopes só conheceu o Rotary quando foi morar para o Algarve, em 2009. “A Isabel foi dar aulas para Tavira, e, na escola onde ela estava, havia três professores que eram rotários.” Depois de assistir a algumas reuniões, o ex-Inspetor da Polícia Judiciária foi convidado para entrar no Rotary Club de Tavira. “Na altura até pensei que a iam convidar a ela, até porque ela estava muito mais ligada aos colegas e foi por causa dela que eu tinha ido a essas reuniões, mas depois convidaram-me a mim. Mais tarde percebi. No Rotary Club de Tavira, na altura, não aceitava mulheres.” Só três anos depois, quando o atual Governador do Distrito 1960 foi presidente desse Clube, é que a esposa, Isabel Lopes, entrou: “quando fui presidente disse: a Isabel vai entrar e os que quiserem sair façam o favor. Ninguém saiu e a Isabel é, hoje, uma mais valia, reconhecida por todos, para o nosso clube.”
Para o ex-Inspetor da Polícia Judiciária, o Rotary é, hoje em dia, fundamental na sua vida. “Eu gosto muito de estar em Rotary e a principal razão porque aqui estou é pela solidariedade do movimento internacional e pela possibilidade de fazer o bem“. Além disso, Abílio Lopes destaca as relações pessoais: “Estou em Rotary também pela amizade e pelo companheirismo. Foi o Movimento Rotário que me permitiu conhecer pessoas extraordinárias a nível nacional e internacional. Fiz grandes amigos no Movimento Rotário […] e todos os dias faço amigos novos.”
O que mais o impressiona e surpreende, em Rotary, é perceber o que os Clubes conseguem fazer nas suas áreas de intervenção e a gratidão que as pessoas mostram. “Desde que sou Governador e tenho feito as visitas oficiais, tive a possibilidade de ver o que os clubes fazem. Nós não nos apercebemos de outra maneira se não for esta, de ir com os clubes às associações. E eu surpreendo-me todos os dias com cada visita que faço […]. De facto, é isso que mais me impressiona. O trabalho que nós fazemos e o reconhecimento que depois eu sinto que as populações, e as próprias autarquias, têm do trabalho do Rotary daquela localidade.”
Outra coisa o motiva para continuar a trabalhar no Movimento Rotário é perceber a contribuição dos jovens através dos Clubes Rotaract e Interact. Apesar de considerar que “esta nova sociedade não está muito habituada a dar” é também neles que Abílio Lopes deposita a esperança do futuro do Rotary, quer a nível internacional como nacional. “Eu entendo que a nossa grande aposta deve ser na juventude. Nós, Clubes rotários, devemos apoiar mais a formação de jovens Interact e Rotaract. Acredito que devemos trabalhar com estes jovens. Se conseguirmos, pelo menos, incutir neles o espirito que nós temos de liderança, de solidariedade e de partilha, eles até podem não chegar a rotários, mas vão, com certeza, ser melhores cidadãos.” Este ano, o Distrito 1960 tem, além do lema internacional, um lema rotário próprio: A Juventude como exemplo no serviço.
O Governador não duvida que “o mais importante de tudo é nós acreditarmos naquilo que fazemos, acreditarmos que somos capazes. Se acreditarmos de facto que aquilo que estamos a fazer é aquilo que deve ser feito nós vamos conseguir realizar os nossos sonhos demorem eles o tempo que demorarem”.
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