Apenas três dias depois de o Tufão “Haiyan” ter atingido as Filipinas em Novembro de 2013, Derek Locke procurava romper através de palmeiras arrancadas, de postes de electricidade derrubados e de fragmentos de casas destruídas por um dos maiores desastres naturais jamais ocorridos naquela região. À medida em que foi distribuindo tendas e outros bens essenciais em Santa Fé, uma pequena comunidade na Ilha de Bantayan, viu-se perante as necessidades brutais de todo o género e com os escassos recursos de que dispunha a pequena equipa de oito pessoas enviada pela ShelterBox. As vítimas tinham sido identificadas como sendo famílias em maior risco, e quando Locke prestava assistência a uma jovem mãe e à sua filha, sentiu que se aproximavam dois vizinhos com quatro crianças, num reboque.
-“Virei-me para eles e eles disseram, ‘Muito obrigado por ajudar o nosso povo, ’ ” recorda Locke, que é membro do the Rotary Club de Dearborn Heights, Michigan (EUA), que passou 38 semanas como elemento da ShelterBox desde 2012. Ele viajou por 11 países e participou em 13 missões da ShelterBox, mas aquele momento ainda mexia com ele. -“Foi especialmente gratificante porque, a despeito dos seus evidentes sofrimentos, eles se mostraram muito gratos por ainda nos ser possível ajudar os outros.”
-“Esta é daquelas coisas que nos mantém acordados à noite a pensar nelas,” – afirma Bruce Heller, um veterano de sete missões da ShelterBox, membro do Rotary Club de Allen Sunrise, Texas (EUA). -“Quando estamos a distribuir a última caixa e vemos uma mãe e o seu filho à espera e não temos mais nada para lhes dar. Nunca se dispõe de ajudas suficientes.”
Para além do que fazem em situações de catástrofes causadas pela natureza e pelas investidas da crueldade humana, as equipas de voluntários da ShelterBox fazem ainda mais. Desde o caso do sismo que matou centenas de milhar de pessoas no Equador em Abril até às intermináveis filas de refugiados no Médio Oriente, a ShelterBox enviou ajudas para centenas de milhar de pessoas deslocadas. Missões de especial referência foram iniciadas há 16 anos e nelas se incluem o “tsunami” acontecido em 2004 no Oceano Índico e o sismo de 2010 no Haiti, onde cerca de 300.000 tendas foram disponibilizadas. Nos Estados Unidos, foram enviadas “ShelterBoxes” para os desalojados devido ao furacão “Katrina”, em Nova Orleans, ao “Sandy”, em Nova York e em Nova Jersey, e pelos tornados no Oeste.
Em Julho, o R.I. e a ShelterBox anunciaram a continuação do projecto de parceria de três anos para fornecimento de tendas de emergência de acordo com ambas as organizações. Os Rotários, juntamente com Rotaractistas e Interactistas, contribuiram com 48 milhões de dólares, ou 40% das receitas da ShelterBox, a partir da sua base no Reino Unido desde 2000 e até 2015. (AShelterBox foi fundada por um Rotário mas é independente do Rotary International e da The Rotary Foundation). O logotipo do Rotary está inclído nas originais “green boxes” e são adaptadas para casos de emergência em que existe falta de aviso.Muitas das caixas incluem tendas de dimensão familiar, e conteúdos que diferem segundo o desastre de que se trata e as condições do clima. Muitas delas levam lanternas de energia solar, embalagens com água e equipamento de filtragem, cobertores térmicos e utensílios de cozinha. Dependendo das necessidades, a Organização pode enviar “ShelterKits”, com pacotes mais pequenos de bens de primeira necessidade que incluem ferramentas, cordas e berbequins usados para ajudas rápidas e na reparação de estruturas danificadas.
-“A parceria estabelecida entre o Rotary e a ShelterBox tem proporcionado um lugar de refúgio para pessoas que enfrentam algumas das maiores dificuldades e incertezas nas suas vidas.” diz o Secretário-Geral do R.I., John Hewko. Aproveitando as forças do Rotary, não somente os fundos de que dispõe, ele alimentou a ShelterBox, acrescenta o seu chefe executivo, Chris Warham. -“Esta parceria é absolutamente fundamental para o que fazemos.” – reconhece Warham. “90% das nossas remessas requerem o envolvimento de Rotários locais. Em quase todos os casos o nosso primeiro apelo dirige-se ao Rotary Clube da área para se ver como ele poderá dar uma ajuda no apoio inicial às nossas equipas. Pedimos aos Rotários tudo, desde ‘podem arranjar-nos um camião?’ até ‘podem arranjar-nos um contacto com algué do governo local ou central?’ Estas necessidades são muitas vezes cruciais para o êxito da nossa intervenção – e os Rotários colaboram sempre.”
O Rotary tem sido uma peça chave no êxito da ShelterBox, desde a sua adopção como ONG pelo Rotary Club de Helston-Lizard (Inglaterra) em 2000. -“Uma das mais importantes facetas da nossa parceria é a de criar oportunidades para que os Rotários sirvam em países atingidos por desastres.” – explica Warham. -“Acabamos de terminar uma missão no Sri Lanka, e os Rotários foram de fundamentais.” Membros do Rotary Club de Capital City dedicaram cinco dias na utilização de bascos e de “kayaks” no salvamento de aldeões isolados pelo deslize de lamas em Maio. -“Construímos campos provisórios para albergar pessoas que tinham perdido as casas em consequência dos deslizamentos de terras” e alojámos 126 famílias em seis campos. -“Oferecer abrigos é muito mais que simplesmente oferecer uma tenda.” – acrescenta Warham. -“É ajudar a comunidade começar no caminho certo… Há um entrelaçar de linhas quando acaba a fase do auxílio de emergência e começa a fase da reconstrução. O Rotary está envolvido em todos esses momentos. Já vimos Rotários que ajudaram as pessoas muito para além do tempo em que nós estivemos no terreno.”
Pouco depois do sismo de 7.8 de magnitude ocorrido no Equador em Abril, os Rotários locais encontraram-se com a equipa de resposta no aeroporto e frequentaram os encontros de coordenação. A ShelterBox distribuiu mais de 2.500 tendas na Comuna de Las Gilces. Após várias réplicas sísmicas, voltou para ajudar outras 690 famílias. -“Muitas vezes trabalhamos com o Rotary em contactos para auxílios colaterais.” – afirma Mark Boeck, que é um formador sénior da ShelterBox. -“Além das redes de contacto existentes nos seus negócios ou pessoais, têm ainda contactos com motoristas, intérpretes e mesmo para cuidados domésticos.” – diz Ron Noseworthy, membro do Rotary Club de Kenora, Ontário (Canadá), acrescentando que ele e a esposa, Claire, têm colaborado voluntariamente com a ShelterBox desde 2006. Ambos o têm feito e Claire veio a entrar mais tarde no Rotary.
Acompanhando Locke, Heller e os Noseworthys na linha da frente estão cerca de mais 70 Rotários de um universo de 180 voluntários em geral. A ligação exigida é simples e ocasional, implicando a formação da altura e a estadia minima de duas semanas em cada ano assim como a sujeição a um processo de selecção que é rigoroso. Depois de se candidatarem, os potenciais voluntários são entrevistados e, se aceites, vão para um campo de treino por quatro dias.
-“Os candidatos bem sucedidos são depois convidados para aquilo que costumamos chamar de curso de formação prévia.” – explica Boeck. Os seleccionados ficam por nove dias em Inglaterra onde aprendem a trabalhar com tudo o que respeita a impressos aduaneiros assim como a segurança pessoal e ao uso de telefones via satélite e GPS.
-“Precisamos de pessoas que saibam reagir e trabalhar em equipa em condições extremas.” – afirma Boeck, acrescentando que patrocinar os custos “standard” da ShelterBox custa cerca de mil dólares. -“Nos primeiros dias (numa qualquer missão), um voluntário pode ter de ir até um país no qual as infraestruturas não existem de todo. Muitas vezes não há lá comida, nem comunicações, nem água… Podem ter de aterrar num país e não encontrar, de imediato, os companheiros da sua equipa. Procuramos quem saiba cuidar de si mesmo – gente que realmente conheça as suas próprias capacidades e limitações.”
-“O treino é duro.” – diz Liz Odell, sócia do Rotary Club de Nailsworth (Inglaterra). -“Se chegar até ao fim, e muitos não o conseguem, segue-se um curso de nove dias na Cornualha, em que se vive numa tenda debaixo da chuva, com escassa alimentação e pouco repouso, sempre sem se saber que desafios nos esperam.” Odell trabalhou já em 15 acções destas desde 2010. Ron Noseworthy, que já participou em 11, achou o teste de quatro dias um grande desafio. Quatro grupos cada um com quatro participantes chegaram ao Parque Estadual do rio Blackwater, no paúl da Florida. -“Tínhamos andado vários quilómetros.” – recorda. -“Disseram-nos que descansássemos por um hora a fim de jantarmos, mas bem sabíamos que alguma coisa viria por aí. Depois do jantar, disseram que “há uma ameaça terrorista. Vocês têm de desmontar as tendas, de colocá-las na mochila e de preparar-se já para partir.” Tivemos uma caminhada de cinco quilómetros através de pistas bem difíceis, tudo na escuridão, no mato. A gente está cansada depois de um longo dia e acontece isto. Fazem testes destes para ver se temos a capacidade física necessária, mas o principal é não perder o controlo.”
-“Historicamente, algumas das acções de formação eram como acampamentos.” – reconhece Boeck. -“Desde 2013, quando lançámos e reformulámos os programas de nove dias de formação, fizemo-lo introduzindo uma componente muito mais virada para um ambiente de aprendizagem. Agora treinamos as pessoas neste domínio e não as avaliamos. Queremos dar às pessoas informação e preparação de tal modo que, quando as enviarmos para locais de desastres, saibam o que delas se espera.
A formação mostrou-se bastante útil nas missões, esclarece Noseworthy, principalmente na altura do devastador tremor de terra ocorrido no Haiti, quando ele se encontrava em Port-au-Prince com a 82ª Divisão Aerotransportada do Exército Norte-Americano. -“Era perigoso. As pessoas estavam famintas e desesperadas.” – diz. -“Um comandante contou-me que tinham gente com boas intenções a caminho para ajudar. Um casal com um atrelado cheio de sacos de arroz apareceu ali junto da entrada do campo. As pessoas sairam dos abrigos de madeira. Começaram a lutar pelo arroz. Os soldados vieram e acabaram com a luta. Com o treino que tínhamos, sabíamos que não se devia fazer aquilo. Fomos antes de tudo para um acampamento. Se nós verificássemos que eram ainda necessárias 200 tendas mas tínhamos somente 100, nós aguardávamos.”
-“Vêem-se pessoas que já não estavam a viver nas melhores condições para começar.” – adverte Locke, um distinguido com o Prémio “Service Above Self” em 2015-16, devido ao seu trabalho com a Organização nos últimos quatro anos. -“Estou sentado no salão da minha linda casa. Simplesmente não consigo imaginar-me a perder tudo tão rapidamente, e ficar sem nada e a precisar das ajudas que levamos. Isso acontece em todos os tipos de desastres. Não importa que se trate de um desastre natural ou de refugiados Sírios que vemos a tentar fugir da violência.”
Com 18 Delegações a ShelterBox espalhadas por todo o mundo a ajudar a sede, a organização está a crescer de modo a enfrentar os pedidos de ajuda constantes, especialmente com o expectável aumento do número de refugiados do Iraque à medida que o seu exército procura reconquistar cidades da opressão do Estado Islâmico. -“Vivemos realmente tempos muito desafiantes.” – diz Warham, colocando, porém, os Rotários num radiante pedestal. -“Eles não fazem simplesmene aquilo que se lhes pede, eles vão muito mais além.”
Brad Webber é colaborador frequente de The Rotarian.
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