Desde o imenso verde do “Centennial Olympic Park” até à larga rua de três faixas que é a “Peachtree”, Atlanta é tão grande como o filme “E Tudo o Vento levou”.
Tal como acontece em diversas partes do sul da América, Atlanta não se preocupa com o tamanho. Todavia, os seus habitantes sabem muito sobre o seu intenso calor, o enorme aeroporto, a sua velha história e sobre a grande generosidade quando é chegada a altura de proporcionar aos visitantes uns belos momentos.
Como filho da terra que cometeu o pecado ainda não perdoado (pela minha família, pelo menos) de andar a conduzir camiões no seio dos “Yankees”, ainda sinto que tenho o direito de admirar a cidade que deixei para trás – e de descobrir alguns dos seus segredos, assim como as suas vistas. A boa nova é que o melhor de Atlanta se encontra concentrado numa área relativamente compacta do seu centro, em expansão, a pouca distância do Centro Mundial de Congressos da Geórgia, onde irá decorrer a Convenção do R. I. de 10 a 14 de Junho.
Há pouco tempo, contei à minha mãe sobre a minha predilecção pela “Pepsi” em detrimento da “Coca-Cola”. Acusou-me de apostasia. Por estas paragens, a “Coca-cola” está apenas um pouco abaixo de “Rhett Butler”, como um amado icóne da cidade – evidenciada pelo gigante Museu Mundial da “Coca-Cola”, no qual uma garrafa da bebida suspensa de um pilar de vidro a 8 metros de altura, o acolhe à entrada. Maravilha são as esculturas da garrafa de “Coca-Cola”, criadas para os Jogos Olímpicos do Verão de 1996, e trabalhos de artistas de todas as partes do mundo. Continuando pelo museu, o visitante vai encontrar o “Vault of the Secret Formula”, uma visita aos bastidores para ver como a bebida é engarrafada, e claro, há amostras gratuitas.
Menos doce, mas mesmo assim muito atraente, encontra-se um novo museu ali perto: o Centro dos Direitos Civis e Humanos. A norte do “Centennial Olympic Park”, não muito longe do local onde nasceu o Rev. Martin Luther King Jr., na Avenida “Auburn”. O Centro foi aberto ao público em 2014. Além dos seus três pisos de artefactos, o visitante vai encontrar um sítio para almoçar interactivo, onde poderá sentar-se com “auscultadores” a ouvir as intervenções de protesto feitas na altura do Movimento dos Direitos Civis.
Atravessando o parque, aparece a sede da CNN (Cable News Network). Os visitantes podem fazer uma visita aos seus estúdios, que inclui a possibilidade de se sentarem à mesa de comando e de verem a gigantesca sala das notícias, e de provavelmente conseguirem ver Wolf Blitzer e a sua famosa barba.
À medida que se aproxima a hora de jantar na cidade, mesmo o mais ferrenho “atlantista” se sente deveras pressionado para comparar com São Francisco ou com Nova Iorque. Porém, o ambiente da cidade ao jantar está “inundado de novos desenvolvimentos”, como refere a revista Atlanta. Incluindo restaurantes como o “Gunshow”, assim designado não por causa de alguma exibição dos “chefs”, mas pelos seus “cozidos, pratos requintados, “bifes tártaros” e especialidades chinesas, e até o saboroso remate do “Beef Wellington””, como escreve a revista.
Alguns quilómetros depois do centro, na moderna Decatur, nº246, está instalado o novo restaurante italiano da celebridade local, o “chef” Ford Fry. A “Kevin Rathbun Bifes” serve doses de bife que dão para encher o bornal dum Texano. E quem rejeitará a truta da Carolina do Norte temperada com “bacon” e “mayonnaise”, no “Cakes & Ale”?! Nos subúrbios de Atlanta, em “Buckhead”, o Mercado do Peixe de Atlanta apresenta todos os dias mariscos fresco e, essa zona figura na lista de “o melhor do País…” na revista Esquire.
Para mim, apesar de tudo, só existe um destino que é obrigatório visitar. Não, não é um local escondido. O grande “V” vermelho que se reporta a “Varsity”. Na verdade, muitos entram na auto-estrada, não para nela se manter mas para mais rapidamente sair para o maior restaurante “drive-in” do mundo, e aí saborear um “cheeseburger” picante regado com um refresco de laranja “Varsity”.
Originariamente designado por “Blusão Amarelo” – uma alusão à alcunha da equipa de atletismo de Geórgia Tech, onde o seu fundador, Frank Gordy, lançou a primeira versão em 1928 –, o “Varsity” veio a mudar de nome mais tarde quando se viu forçado a sair do “Atlanta’s Downtown Connector” da auto-estrada (na “Interstate” 75/85) para o sítio onde agora está, no centro. O restaurante, de estrutura no estilo “art deco”, bronzeado e côr de vinho, estende-se por dois blocos de edifícios, um espaço suficiente para albergar 800 pessoas no interior e 600 automóveis fora.
Para os da cidade, o “Varsity” é bem mais que um mero restaurante. O meu avô levava-me lá muitas vezes após os jogos da Pequena Liga; se a equipa dele tivesse ganho, ele oferecia um batido de chocolate. E os pais de toda a Atlanta sabem que acabam com as birras dos filhos, se ameaçarem cancelar a visita ao “Varsity”. É frequente ver toda a família a comer algo que acaba por ser uma fusão de “ketchup” e mostarda, e onde se ouve frequentemente gritar “Ora o que vai ser hoje?” – o “slogan” não oficial dos sempre ocupados “caixas”.
Depois de ter comido, adquira um “souvenir” num local que oferece mais do que bolinhos. Experimente o Mercado “Ponce City”, que apenas dista uns 15 minutos de automóvel a partir do Centro de Convenções. Saboreie um pequeno gelado de mel, que pode encontrar em sítios como a “Ponce Denim Co.” ou mesmo na luxuosa galeria da “Q Clothier”. Peça um batido no “Dancing Goats Coffee Bar”, o primeiro estabelecimento a abrir no renovado “Sears”, edifício “Roebuck”, e chegue à “Boogaloos Boutique” ou à “Citizen Supply”, onde pode admirar e adquirir peças de artesanato.
Se preferir prescindir das compras, distraia-se regressando à “Fonte dos Aneis” no “Centennial Olympic Park”, a maior fonte interactiva do mundo. As crianças adoram-na e, quando aumenta a temperatura, os adultos também alinham em dar um mergulho. Para uma outra experiência com água, visite o Aquário da Geórgia, que fica ali perto.
Sim: todas as grandes cidades parece que têm um, mas esta maravilha de 38 milhões de litrosde água, foi considerado o maior aquário do mundo até 2012, quando este título foi arrebatado pelo “Marine Life Park”, de Singapura. O aquário proporciona sete exibições principais – já incluindo a mostra mais recente, a galeria Dolphin Tales. A visita inclui um estádio coberto, no qual uma dúzia de golfinhos dá um espectáculo de meia-hora. Vale a pena ver tudo, mas o meu “espetáculo” favorito é, sem dúvida, o Ocean Voyager – um habitáculo de 24 milhões de litros de água salgada que constitui um dos maiores do seu género e o único em toda a América do Norte que mostra tubarões-baleia.
Confortavelmente sentado na grande sala panorâmica, olhando para cima onde o tecto é em vidro, poderá ver mantas – inclusive Nandi, que foi salva das redes contra tubarões na costa Sul-Africana – e cardumes de peixes brilhantes e exóticos. E quando acha que não pode maravilhar-se ainda mais, uma baleia branca e enorme – rodeada de uma escolta de cerca de uma dúzia de peixes-piloto – por lá anda devagar e em silenciosa majestade.
Por outro lado, nada de silencioso existe na Sala da Fama do Futebol do liceu que fica ali ao lado. A partir do momento em que lá se entra no “the Quad”, e se depara com a bem alta parede forrada a capacetes de mais de 700 Universidades, parece que batemos numa barreira de som – anúncios sobre jogadores que ficaram famosos e reportagens de golos. O visitante pode relembrar os momentos que acha mais icónicos, servindo-se duma posição própria com microfone, para poder seguir cada jogo no qual esses momentos realmente aconteceram, como o do resultado da “Doug Flutie’s Hail Mary” que deu a vitória ao Liceu de Boston em 1984 sobre a Universidade de “Miami Hurricanes”.
Depois de ter apreciado o centro, deve alugar um carro e fazer uma pequena digressão por um dos meus lugares preferidos de toda a Geórgia: a Montanha de Pedra.
Stone Mountain Theme ParkTrata-se de de um monzonito monolítico de quartzo bem alto, acinzentado, liso e escorregadio. Aqui, a prosápia maior – de que será o maior exemplar de granito à vista em todo o mundo— não é exactamente verdade. O granito é apenas um dos materiais de que ele é feito, entre vários outros.
O monte tem diversas assinaturas gravadas, e é o maior baixo-relevo do mundo, mostrando as de Robert E. Lee, Stonewall Jackson e Jefferson Davis. (Se nos lembrarmos das menores gravações feitas no Monte “Rushmore”, não admira. Estas famosas inscrições foram criadas já depois daquelas e pelo mesmo escultor).
Mas do que mais me recordo dos tempos de criança é de como era divertido subir até ao cimo, por um terreno quase lunar, através do lado ocidental, e da sensação de medo ao descer. Na última vez em que ali fui, usei o teleférico.
Mudando de assunto, Atlanta tem história, a despeito da sua pouca idade (ainda não tem 200 anos). Isto leva-me até uma das maiores atracções de Atlanta, se não uma das mais conhecidas mundialmente: o Centro de História de Atlanta. É uma vasta área que mostra diversas estruturas históricas, que incluem a Casa “Swan”, a quinta de Tullie Smith e a Cabana Familiar em Madeira. Porém, a “joia-da-coroa” é a colecção da Guerra Civil. Dela fazem parte objectos como – sabres, espingardas, fardas em azul e em cinzento – e objectos pessoais: cartas para a família escritas com uma pena numa mesa tosca; um par de óculos redondos; um cantil, esmurrado e mordido; e, claro, recordações do General Unionista William Sherman’s March encontradas no mar, evocando o momento mais tocante do incêndio de Atlanta.
Continue pelo corredor e irá encontrar Atlanta em 50 Objectos, que inclui o manuscrito do discurso de aceitação do Prémio Nobel da Paz de 1964, de Martin Luther King Jr., um modelo de 1915 da garrafa de “Coca-Cola”, o taco que o memorável jogador de “baseball”, Hank Aaron, usou para bater a bola numa jogada inesquecível, e um “poster” do filme E Tudo o Vento Levou (baseado na obra de Margaret Mitchell, cuja casa, actualmente gerida pelo centro histórico, ainda lá está, nas “Peachtree” e 10ª ruas).
Entre os 50 objectos há um que, para mim, efectivamente resume toda Atlanta: o “Rich’s Pink Pig”. Símbolo preferido do Natal, na loja de Atlanta há largo tempo desaparecida, a Rich, o “Pink Pig” (porco rosa) era um “monorail”. Eu e a minha irmã viajávamos nele todos os anos, e ele continua a ser uma das minhas mais felizes recordações da cidade – um lugar onde serviam, também, chá doce gelado como refresco, a menos que se pedisse outra coisa, e se comiam os melhores pêssegos que havia; onde o “Mary Mac’s” servia do melhor frango frito que se pode comer no sul; e onde as pessoas locais conversam, com um sotaque de vogais redondas. As pessoas de Atlanta são cordiais, abertas e prontas a sorrir, rir, e a ajudar sempre quem está perdido. Dependendo da pessoa que encontre, até pode ser convidado para jantar no Domingo.
Texto: Bryan Smith
Fotografias: Frank Ishman
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